Folha de S. Paulo


Graça Foster vai se desligar da Petrobras e gozar aposentadoria

A ex-presidente da Petrobras Graça Foster deve se desligar da Petrobras após sua renúncia ao cargo, formalizada na sexta-feira. A Folha apurou que, além de Graça, ao menos outros dois dos cinco ex-diretores que deixaram a estatal na semana passada também já formalizaram sua saída: Almir Barbassa e José Carlos Cosenza.

Aldemir Bendine, que até então presidia o Banco do Brasil, assumiu o lugar dela à frente da petroleira.

Graça já tomou a decisão de deixar a companhia e gozar a aposentadoria, algo em que vinha aventando nas últimas semanas. Ela era funcionária da Petrobras desde 1981 e já havia se aposentado, mas continuava a trabalhar. A Petrobras não informou quando ela requereu sua aposentadoria.

Nos últimos dias, a executiva e os cinco colegas que se demitiram –José Santoro, José Formigli, José Figueiredo, além de Barbassa e Cosenza– mostravam-se emocionalmente "desgastados" após a divulgação do balanço da estatal.

Eraldo Peres - 30.abr.2014/AP
A ex-presidente da Petrobras Graça Foster no Congresso
A ex-presidente da Petrobras Graça Foster no Congresso

BALANÇO

A divulgação do número de R$ 88,6 bilhões, estimada como baixa que deveria ser feita nos R$ 300 bilhões que a empresa tem em ativos, foi o estopim para a decisão conjunta de saída dos seis.

Bendine buscará investidores nacionais e internacionais para tentar tranquilizar o mercado sobre os rumos da empresa.

Segundo a Folha apurou com integrantes do governo, o executivo fará uma teleconferência até a próxima sexta (13) a fim de acalmar acionistas e empresas preocupados com a situação da petroleira diante do escândalo de corrupção que tem afetado as contas da companhia.

No contato, conforme relatos de interlocutores, ele prometerá ganhos aos acionistas e procurará garantir a rentabilidade em meio à novela do balanço não auditado.

AUDITORIA

A Deloitte, o BNP Paribas e a Petrobras levaram 20 dias para chegar aos R$ 88,6 bilhões que deveriam ser baixados do balanço. A ideia inicial era estimar o efeito do esquema de corrupção nos contratos tocados por empreiteiras denunciadas na Operação Lava Jato.

A metodologia usada, porém, acabou incorporando fatores de mercado e ineficiências nas licitações e nos projetos, e, por isso, a decisão de dar baixa no valor usando-o como parâmetro acabou abandonada. Ainda assim, decidiu-se por sua divulgação.

"Sabíamos que seria um número alto, mas nos surpreendeu", disse uma pessoa que acompanhou o cálculo.

A iniciativa dos diretores foi tomada depois de eles terem verificado que a divulgação do número, algo que defenderam desde a conclusão dos cálculos, foi mal recebida no Planalto.

O número foi divulgado na quarta-feira, 28, um dia após uma tensa reunião do conselho de administração da empresa, em que os quatro principais representantes do governo no colegiado –Guido Mantega e Miriam Belchior, ex-ministros; Márcio Zimmermann, secretário executivo de Minas e Energia; e Luciano Coutinho, presidente do BNDES, defendiam sua não publicação.

Pelo menos cinco conselheiros, entre eles Graça, apoiavam a medida. A defesa dela pela publicidade ao número baseou-se no apoio recebido previamente dos colegas diretores, antes de dirigir-se para a reunião.

A decisão de saída do grupo foi comunicada, então, por Graça à Dilma em 30 de janeiro, dois dias depois de divulgado o número. Assim, o pedido de demissão coletivo ocorreria sete dias depois, na reunião do conselho de administração.

No começo da semana seguinte, porém, veio a público a saída de Graça da Petrobras. Com isso, Graça foi novamente chamada a Brasília, na terça-feira, 3, e ouviu de Dilma o pedido para que a diretoria ficasse até março, enquanto novos nomes fossem encontrados.

Naquele mesmo dia, os cinco diretores receberam a orientação da presidente, transmitida por Graça, com indignação. Não concordavam com a versão de que, em vez de pedirem demissão, foram demitidos, o que levou à renúncia coletiva quase imediata.


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