Folha de S. Paulo


Ministério Público e PF investigarão empréstimo do BB a amiga de Bendine

O nome escolhido pela presidente Dilma Rousseff para limpar a Petrobras, o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, é alvo de um procedimento de investigação da Procuradoria da República em São Paulo.

O Ministério Público Federal informou na tarde desta sexta-feira (6) que determinou à Polícia Federal a instauração de inquérito para averiguar a concessão de empréstimo do BB à socialite Valdirene Marchiori. Val Marchiori, como a socialite é conhecida, é amiga de Bendine (entenda o caso ).

Segundo a Folha apurou, a determinação foi feita diretamente à Delefin –Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros.

Conforme a Folha revelou no ano passado, o BB driblou uma série de regras internas para conceder o financiamento de R$ 2,7 milhões para Marchiori, a partir de uma linha subsidiada pelo BNDES, com taxa de 4% de juros ao ano –abaixo da inflação.

Marchiori tinha restrição de crédito por não ter pago empréstimo anterior ao BB e também por não apresentar capacidade financeira para obter o financiamento, segundo documentos internos do BB obtidos pela Folha.

Segundo nota divulgada pelo MPF de São Paulo, a Justiça Federal comunicou ao Banco do Brasil nesta semana determinação para que forneça aos procuradores documentos referentes aos empréstimos concedidos à empresária desde 2009.

Segundo a nota, em outubro do ano passado o MPF já havia feito o pedido, mas o banco alegou ser necessária uma ordem judicial de quebra de sigilo bancário dos envolvidos para atender à solicitação. "Acionado, o Judiciário afastou essa condição por se tratar de recursos públicos e deu prazo de cinco dias para que o BB disponibilize a documentação."

O MPF informou que aguarda o envio do material. "Com a instauração do inquérito, os procuradores requerem à Polícia Federal que aprofunde as investigações, com a coleta de outros elementos probatórios."

Val Marchiori, mais conhecida por sua participação no programa de TV "Mulheres Ricas", esteve com Bendine em duas missões oficiais do banco, uma na Argentina e outra no Rio. Nas duas ocasiões, os dois ficaram hospedados nos mesmos hotéis: primeiro no Alvear, em Buenos Aires, e depois no Copacabana Palace, no Rio.

Zanone Fraissat - 14.jun.12/Folhapress
A socialite Val Marchiori, amiga de Aldemir Bendine, o novo presidente da Petrobras
A socialite Val Marchiori, amiga de Aldemir Bendine, o novo presidente da Petrobras

MOTORISTA

O procedimento de investigação contra Bendine foi inicialmente instaurado pelo MPF a partir do depoimento do ex-motorista da Presidência da República Sebastião Ferreira da Silva. Ferreirinha, como é conhecido, dirigiu para a campanha de Lula em 2002 e depois foi contratado pelo escritório da Presidência em São Paulo, onde ficou por quatro anos.

Em seguida, Ferreirinha passou a dirigir para Bendine, no BB, por quase seis anos.

Ele disse ao Ministério Público que presenciou Bendine sair de um prédio comercial em São Paulo, ocupado por empresas ligadas ao grupo da TV Record, com uma sacola repleta de maços de notas de R$ 100.
Também contou que recebeu ordens para fazer diversos pagamentos com altas quantias em dinheiro vivo, sempre entregues a ele dentro do BB, pelo próprio Bendine. O executivo nega as acusações.

Conforme a Folha revelou no ano passado, Bendine foi autuado pela Receita Federal por não comprovar a origem de aproximadamente R$ 280 mil de seu patrimônio informados em sua declaração do Imposto de Renda.

Ele entrou no radar da Receita em 2010, após comprar no interior paulista um apartamento avaliado em R$ 200 mil, pago em dinheiro vivo. Para se livrar da fiscalização do fisco e de futuros questionamentos, pagou o auto sem qualquer questionamento. Como pagou à vista, teve um desconto, tendo desembolsado ao final R$ 122 mil.

SOCIALITE

Em entrevista à Folha, Ferreirinha disse que buscava Marchiori em diversos locais de São Paulo a pedido de Bendine. "Fui buscar muitas vezes a Val Marchiori", disse ele.

O executivo nega qualquer participação na concessão do empréstimo. Reconhece que ficou hospedado nos mesmos hotéis que Marchiori nas duas ocasiões, mas diz que a estadia dela não tinha relação com as missões do banco, que foram coincidências.

A empresa pela qual Marchiori tomou o crédito, a Torke Empreendimentos, apresentou como comprovação de receita a pensão alimentícia de seus dois filhos menores de idade.A Torke não tinha experiência na área de transportes e a atuação da empresa até então estava relacionada à carreira de Marchiori na TV.

Na condição de administradora com poderes plenos na empresa, Marchiori tinha dívidas antigas com o BB que representavam impedimento para o novo empréstimo. Por isso, foi feita uma "operação customizada", ou seja, sob medida para Marchiori, para liberar os recursos.

OUTRO LADO

À época em que a Folha revelou o empréstimo para Val Marchiori, o Banco do Brasil afirmou, por meio de sua assessoria, que a operação de crédito concedida à Torke Empreendimentos, empresa pela qual a socialite obteve o empréstimo, seguiu devidamente as normas do banco.

A instituição concedeu empréstimo de R$ 2,7 milhões à apresentadora de TV Val Marchiori, a partir de uma linha subsidiada pelo BNDES. O BB informou que a transação teve foi aprovada pelo BNDES e que não houve excepcionalidade no caso de Marchiori.

Bendine negou que Marchiori estivesse nos hotéis da Argentina e Rio por conta de missões do banco e disse que a encontrou por coincidência. Ele negou participação na concessão de crédito à Torke.

Bendine nega as acusações feitas por seu ex-motorista Sebastião Ferreira da Silva.

Sobre a multa, Bendine disse que ela se deveu a um erro no preenchimento do IR


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