Folha de S. Paulo


Não formamos governo com 'toma lá, dá cá', diz ministro

Pedro Ladeira - 2.jan.2015/Folhapress
O ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, durante cerimônia de posse
O ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, durante cerimônia de posse

Responsável pela articulação política entre o governo e o Congresso Nacional, o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais) confirmou nesta terça-feira (20) que se reuniu com parlamentares de partidos nanicos na semana passada e que, na ocasião, os deputados o questionaram se poderiam fazer indicações para o segundo e terceiro escalões.

O ministro, no entanto, negou que tenha condicionado a possibilidade de alocar esses políticos no governo em troca de apoio à candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara dos Deputados.

Reportagem da Folha desta terça-feira (20) mostra que deputados relataram que o governo federal tem oferecido cargos em troca de apoio ao petista na disputa.

O principal adversário de Chinaglia é o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tido como desafeto pelo Planalto. Segundo o peemedebista, todos os dias deputados relatam a ele a oferta de cargos.

''Todos os dias recebo relato de deputados abordados por ministros do Palácio tentando fazê-los mudarem para a candidatura do Chinaglia. Abordados com todo tipo de proposta e de cobranças, incluindo ofertas de cargos, segundo me relatam'', afirmou Cunha.

Representantes de um recém-formado bloco de oito partidos nanicos, que somam 40 deputados, se reuniram na semana passada com Pepe Vargas.

Deputados que fazem parte da coordenação desse bloco disseram à Folha, em entrevistas gravadas, que houve pedido de apoio a Chinaglia e oferta de cargos no governo federal e em administrações estaduais e municipais ligadas ao PT.

Segundo Pepe, a acusação de Cunha e os relatos dos deputados não procedem. "Esses parlamentares me perguntaram como o governo os enxergaria neste momento e eles perguntaram se poderiam fazer indicações para a composição do governo", relatou Vargas nesta terça, em um café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto.

Na segunda, sua assessoria já havia negado a negociação de cargos.

De acordo com o ministro, ele respondeu aos deputados que eles teriam toda a legitimidade para fazer as indicações. "Isso faz parte. Mas o governo não está formando as indicações para segundo e terceiro escalão com base nesse critério. Não vai ser com base nisso que a gente vai definir", disse.

Questionado sobre o motivo de a presidente Dilma Rousseff ter deixado para concluir as indicações para os segundo e terceiros escalões de seu governo apenas após as eleições para a presidência da Câmara e do Senado, marcadas para 1º de fevereiro, o ministro afirmou que isso se deu justamente para mostrar que a definição do comando do Congresso não influenciaria na formação do governo.

"Quem vai definir as eleições na Câmara não é o governo. [...] Nós não formamos nosso governo com toma lá, dá cá. Mas é evidente que o governo vai ser formado por pessoas indicadas por partidos e por pessoas que não são de partidos. Desconheço qualquer governo que não seja formado assim. Isso é democrático. É legitimo", disse.

CUNHA

Em resposta ao ministro, Eduardo Cunha reafirmou nesta terça que tem recebido relatos de parlamentares que confirmam pressão do Planalto sobre deputados em relação ao comando da Câmara.

O peemedebista, inclusive, subiu o tom contra o governo. "A gente espera que o governo tenha uma posição de cautela sobre esse assunto. Na hora que o governo toma lado, obviamente isso terá sequelas", afirmou.

"Os relatos feitos a mim foi de interferência. Se não vai interferir, ótimo. Não tem que interferir mesmo".


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