Folha de S. Paulo


Se ocorreu cartel, líder foi Petrobras, diz construtora UTC

Apontada como líder das empreiteiras acusadas de desviar recursos da Petrobras, a UTC partiu para o ataque. Em documento, afirmou que o suposto "clube" de empresas envolvidas no esquema de corrupção seria chefiado pela própria estatal.

"Se cartel houve [...] seu principal agente seria a Petrobras, sendo o suposto 'clube' no máximo um instrumento das ações dela mesma", afirma a UTC.

A afirmação aparece na defesa da firma no processo em que foi proibida de fazer novos contratos com a Petrobras –medida que atingiu também mais 22 construtoras citadas na Operação Lava Jato. O papel foi entregue nesta terça (12) à estatal.

Ao contestar seu afastamento, a UTC diz que a estatal controlava todo o processo de contratação de fornecedores: organizava as licitações, convidava as concorrentes e dava o preço final.

No documento, a UTC argumenta que não houve conluio das empresas contra a Petrobras e afirma que a estatal tenta se passar por vítima.

"Se o conjunto de fornecedores da Petrobras merece a alcunha de 'clube', deve-se lembrar que seu fundador e mantenedor somente poderia ser o próprio monopsônio [único comprador do mercado, no caso, a Petrobras]", dizem os advogados da UTC na peça de defesa.

O advogado Sebastião Tojal, que defende a empreiteira, diz que a Petrobras tenta colocar-se na posição de vítima. "Ela tenta fugir de suas responsabilidades dizendo-se vítima de diretores. As decisões lá são colegiadas e as grandes obras envolviam o conselho de administração".

Procurada pela Folha para comentar, a Petrobras não se manifestou.

DONO DA CADEIA

Com mais de 20 mil funcionários em seus canteiros de obras e sócia dos grupos que têm as concessões do aeroporto de Viracopos (SP) e da linha 6 do Metrô paulistano, a UTC faturou R$ 5,5 bilhões no ano passado. Quase metade dessa receita saiu dos contratos com a Petrobras.

Seu principal acionista, Ricardo Pessoa, está preso desde o fim do ano passado. Ele foi apontado por delatores do esquema como coordenador do cartel das empreiteiras que atuavam na Petrobras –papel negado por ele.

Contra a decisão de afastar a UTC das próximas obras da Petrobras, os advogados da empresa afirmam que a construtora tem limitações para se defender. Isso porque, dizem, a Petrobras não apontou as situações em que teria ocorrido cartel.

Os advogados também criticam a estatal por ter se baseado em delações premiadas, "que não são provas, são caminhos para orientar a investigação", afirma o advogado Tojal.

Além disso, os defensores da UTC lançam suspeitas contra os dois executivos da Toyo Setal que colaboram com as investigações.

Segundo eles, a Toyo é concorrente da UTC. Elas competem nos contratos de perfuração de poços em alto mar. Portanto, dizem, os delatores podem não ser isentos.


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