Folha de S. Paulo


PT está 'preocupadíssimo' com Lava Jato, dizem anotações de empresário

A revista "Veja" divulgou na sua edição deste sábado (10) anotações atribuídas ao empreiteiro Ricardo Ribeiro Pessoa, da UTC Engenharia, segundo as quais ele afirmou que Edinho Silva, tesoureiro da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, estaria "preocupadíssimo" com os desdobramentos da Operação Lava Jato.

Pessoa está preso em Curitiba (PR) desde 17 de novembro, acusado de ser o coordenador do "clube" de empreiteiras que prestam serviços à Petrobras em forma de cartel, de acordo com as investigações da Operação Lava Jato.

Segundo as anotações, a preocupação de Edinho estaria vinculada ao fato de que as empreiteiras investigadas por participarem do esquema de desvio de recursos da Petrobras também fizeram doações eleitorais para a candidata ao Palácio do Planalto.

Marcos Bezerra - 14.nov.2014/Futura Press/Folhapress
O presidente da UTC, Ricardo Pessoa, em 14 de novembro, dia em que foi detido pela PF
O presidente da UTC, Ricardo Pessoa, em 14 de novembro, dia em que foi detido pela PF

"Todas as empreiteiras acusadas de esquema criminoso da Operação Lava Jato doaram para campanha de Dilma. Será se (sic) falarão sobre vinculações campanha x obras da Petrobras?", escreveu Pessoa. "Já pensou se há vinculações em algumas delas. O que dirá o nosso procurador-geral. O STF a se pronunciar", completou.

Edinho Silva disse neste sábado à Folha que não tem "absolutamente nenhuma preocupação" com os desdobramentos das investigações. Ele disse que a arrecadação foi feita dentro da legalidade, seguindo normas da Justiça Eleitoral, que aprovou as contas "por unanimidade".

Edinho afirmou que teve três encontros com Ricardo Pessoa, entre agosto e setembro de 2014, para acertar as doações. Segundo o petista, em nenhum momento houve referência a obras ou contratos da Petrobras.

Ele disse ainda que a UTC não fez repasses apenas para o PT. "O procedimento da nossa campanha foi idêntico aos demais comitês: você pega a lista, bate na porta, pede doação, mas dentro da legalidade", completou.

No comando do PT, a manifestação do executivo foi interpretada como um recado ao governo e também ao mercado. O alerta político seria de que teria disposição para incomodar o governo e aos empresários de que tem força para tocar seus negócios, que estariam enfrentando dificuldades depois da operação da Polícia Federal.

O advogado de Pessoa, Alberto Zacharias Toron, disse que as anotações citadas pela revista não passaram pelas suas mãos nem eram de seu conhecimento.

SEM AMEAÇAS

Toron afirmou que Ricardo Pessoa não fez ameaças e interpretou os trechos divulgados como "apenas uma reflexão de alguém que está preso e revoltado, injustiçado, enquanto outros acusados com envolvimento em corrupção, como Renato Duque, estão soltos".

Foi uma referência ao ex-diretor de Serviços da Petrobras que foi solto após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

Toron disse ter dificuldades para fazer maiores comentários sobre os bilhetes porque a revista "publicou apenas trechos". Procurado, o Planalto informou que não iria se manifestar.


Endereço da página: