Folha de S. Paulo


Novo ministro da Ciência defendeu posições contrárias às da academia

Escolhido pela presidente Dilma Rousseff para dirigir o Ministério da Ciência e Tecnologia em seu segundo mandato, o atual ministro do Esporte, Aldo Rebelo, defendeu posições contrárias aos interesses da comunidade científica como deputado federal, antes de ir para o governo.

Em 1994, Rebelo apresentou projeto de lei para proibir a "adoção, pelos órgãos públicos, de inovação tecnológica poupadora de mão-de-obra". O ministério que Rebelo vai dirigir agora é responsável por políticas de apoio à pesquisa e à inovação nas universidades e na indústria.

Rebelo também criticou no passado políticas de prevenção do aquecimento global, outra área de interesse do ministério, que é responsável pelos relatórios que o Brasil deve apresentar ao Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), que monitora a evolução do problema no planeta.

Miguel Schincariol - 8.dez.2014/AFP
Aldo Rebelo (PC do B), durante entrevista em São Paulo
Aldo Rebelo (PC do B), durante entrevista em São Paulo

Em 2010, como relator do projeto de lei que restringiu os limites de proteção a vegetação natural no Código Florestal, Aldo Rebelo exaltou sua "devoção ao materialismo dialético como ciência da natureza" para se referir às previsões de aumento da temperatura global como "cientificismo [que] tem por trás o controle dos padrões de consumo dos países pobres".

Na mesma carta em que fez essa afirmação, Rebelo, que é filiado ao PC do B, reforçou seu antagonismo com cientistas da área de recursos naturais ao associar o aquecimento global ao "chamado movimento ambientalista internacional", que, para ele, "nada mais é, em sua essência geopolítica, que uma cabeça de ponte do imperialismo".

O físico Paulo Artaxo, professor da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e do IPCC, considerou "preocupante" a escolha de Rebelo. "Obviamente o novo ministro não tem qualquer afinidade com a área, nem conhecimento de sua complexidade", disse Artaxo. "É lamentável o critério que levou a essa escolha para um cargo de importância estratégica."

NACIONALISMO

Aos 58 anos, deputado por São Paulo, Rebelo está no sexto mandato consecutivo e licenciou-se para assumir o Ministério do Esporte, em 2011. Sua atuação parlamentar foi marcada pela defesa de teses nacionalistas, como um projeto de lei para a proibição o uso de estrangeirismos na língua portuguesa.

Rebelo foi líder do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara no início de seu primeiro mandato, de 2003 a 2004, quando assumiu a Secretaria da Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência.

Procurado pela Folha para falar de sua atuação como deputado, Rebelo não foi localizado até a conclusão desta edição, nesta quarta-feira (24).


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