Folha de S. Paulo


Movimento contra Dilma se divide em quatro vertentes

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A primeira aconteceu seis dias depois do segundo turno, quando Dilma Rousseff se reelegeu presidente -2.500 pessoas compareceram. A segunda, duas semanas depois, reuniu 10 mil manifestantes, segundo a Polícia Militar. Outras duas já ocorreram -a última delas teve 5.000 pessoas.

A forte mobilização nos protestos contra o PT e a presidente Dilma só foi possível graças a um fator que as diferencia das manifestações de junho de 2013: lideranças e grupos coesos. Ao menos quatro deles, incluindo um favorável ao golpe militar, têm ido às ruas neste 2014.

Um dos líderes é o paulistano Marcello Reis, 40, do Revoltados On Line e habitué de videoconferências com o filósofo Olavo de Carvalho e o cantor Lobão -porta-voz informal dos antipetistas.

A favor do impeachment, mas contrário a uma intervenção militar, Reis define sua causa como "uma guerra entre o bem e o mal". E é com esse discurso que ele chega a uma churrascaria nos Jardins usando uma camiseta com dizeres "Família, Deus, Liberdade": "Dilma é uma terrorista que se faz de santa".

Administrador por formação, Reis foi demitido recentemente depois de aparecer em jornais retratado como neonazista em uma confusão no Congresso. Ele nega seguir a ideologia. Mais que anti-PT, ele acha que "todos os partidos estão corrompidos". E critica ídolos da esquerda: nada pior que "comunista que toma cafezinho na França, como Chico [Buarque]".

"Infelizmente a cultura da direita é muito 'coxa'", diz o empresário Renan Santos, 30, no QG do Movimento Brasil Livre no centro de São Paulo. Lá se bebe tequila ao som de Bruce Springsteen enquanto se admira um pôster do Bob Dylan. A fala reflete o apelido que petistas deram aos simpatizantes tucanos: coxinha.

Ele e o estudante de economia Kim Kataguiri, 18, lideram o grupo também à frente dos protestos. Defensores do liberalismo, querem reduzir a "hegemonia cultural".

Já o Vem Pra Rua, o mais moderado entre os grupos anti-PT, é contra a intervenção do Exército e se opõe, por ora, ao pedido de impeachment de Dilma. "Não posso dividir o microfone com quem há cinco minutos disse que são os militares que vão resolver isso. Essa não é nossa causa", disse no ato do último dia 6 o empresário Rogério Chequer, 46, que lidera o movimento.

Uma das propostas dos grupos é influenciar a política institucional. O MBL propõe-se a "pautar a oposição". Para eles, viria a calhar "um Aécio com um pouquinho mais de testosterona". Kataguiri, por outro lado, não enxerga um partido afinado com ideais liberais.

Apesar de ser citado entre diversos manifestantes, o PSDB tem papel pouco claro nos atos. Na cúpula do partido há quem acredite que as lideranças políticas são coadjuvantes nas mobilizações, mas também há quem defenda o envolvimento da sigla.

Para tucanos, a população vê no PSDB o antagonismo ao PT e a Dilma, mas há temor de que o partido seja associado a ideias de ultradireita -como a intervenção militar.

Mesmo os cautelosos, porém, acreditam que a participação de Aécio Neves (PSDB-MG) nos atos marcaria sua posição como a principal liderança oposicionista. Quando o faz, Aécio procura se associar a grupos como o Vem Pra Rua, que não defende a volta dos militares ao poder.


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