Folha de S. Paulo


Graça sabia de irregularidades desde 2007, diz Venina em depoimento

Em depoimento de cinco horas no Ministério Público Federal do Paraná nesta sexta-feira (19), a ex-gerente da Petrobras Venina Velosa da Fonseca apresentou documentos e alegações que confirmam que a presidente da empresa, Graça Foster, sabia das irregularidades na estatal desde 2007, segundo o advogado de Fonseca, Ubiratan Mattos.

Sobre alegações da Petrobras, divulgadas em nota na última terça (16), de que as afirmações de Fonseca eram vagas e de que ela só fez as denúncias por ter sido responsabilizada, Mattos vê uma inversão.

"Estão querendo transformar a vítima em vilã. Estão tentando desconstruir a figura da minha cliente. Hoje ela comprovou que não é a vilã da história", afirmou.

Alan Marques/Folhapress
A ex-gerente da Diretoria de Refino e Abastecimento da Petrobras, Venina Velosa da Fonseca
A ex-gerente da Diretoria de Refino e Abastecimento da Petrobras, Venina Velosa da Fonseca

A funcionária enviou e-mails alertando a atual diretoria da estatal sobre desvios na companhia, conforme revelou reportagem do jornal "Valor Econômico". Os alertas eram referentes a desvios que somam bilhões de reais em três áreas da empresa.

As primeiras denúncias de Venina Fonseca referiam-se a pagamentos de R$ 58 milhões por serviços que não foram realizados na área de comunicação da diretoria de Abastecimento, em 2008. Na época, a funcionária era subordinada ao ex-diretor Paulo Roberto Costa, um dos réus da Operação Lava Jato.

Em 2009, segundo o jornal, a gerente enviou um e-mail a Graça Foster, na época diretora de Gás e Energia, alertando-a sobre a escalada de preços em obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e apresentando sugestões para mitigar o problema. As obras da refinaria, orçadas em R$ 4 bilhões, chegaram ao custo de R$ 18 bilhões.

Em 2011, a gerente teria escrito outro e-mail a Foster dizendo não ver mais alternativas para mudar a situação dos desvios na empresa e sugere apresentar a documentação que possui à então diretora de Gás e Energia.

"Gostaria de te ouvir antes de dar o próximo passo", disse Venina na mensagem publicada pelo "Valor".

Em março de 2014, Venina teria alertado o sucessor de Paulo Roberto Costa da diretoria de Abastecimento, José Carlos Cosenza, sobre perdas financeiras em operações internacionais da Petrobras, que subiram em até 15% os custos no exterior.

Segundo a reportagem, a gerente fez uma apresentação sobre as perdas na sede da Petrobras, no Rio, em maio. Uma última mensagem sobre o assunto teria sido enviada em 17 de novembro.

No dia 19 do mesmo mês, Venina foi afastada de seu cargo junto a vários suspeitos na Operação Lava Jato, apesar de não ter o nome citado em denúncias.

REAÇÃO

Após a publicação da reportagem do "Valor", a Petrobras emitiu três notas à imprensa relativas ao caso. Primeiro, a empresa disse que tinha investigado todos os casos relatados por Venina Velosa da Fonseca, mas não explicitava se Graça Foster e Cosenza haviam recebido as mensagens enviadas pela funcionária.

Em segunda mensagem, a estatal criticou a demora de Fonseca para fazer as acusações.

Por fim, na última terça, a Petrobras afirmou que os e-mails enviados a Graça Foster não explicitavam irregularidades na estatal e que a presidente da empresa só foi alertada em novembro deste ano, após a demissão da funcionária.


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