Folha de S. Paulo


Simon se despede da vida pública com críticas ao PT e defesa de Barbosa

Depois de 60 anos na política, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) fez nesta quarta (10) sua despedida do Congresso e da vida pública. Aos 84 anos, o peemedebista não se reelegeu para o Senado nas eleições de outubro e encerra o seu mandato no Senado a partir de fevereiro.

Em discurso de mais de quatro horas no plenário, com sucessivas homenagens de colegas, Simon defendeu o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa e o juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, pelo empenho no combate à "corrupção e impunidade".

Com críticas ao escândalo de corrupção na Petrobras, o peemedebista classificou o desvio de recursos públicos como "punhalada traiçoeira" na estatal que era "orgulho" de muitos brasileiros.

"Bem-aventurado Joaquim Barbosa. Bem-aventurado Sérgio Moro. Bem-aventurados todos aqueles que, abnegados, gritam e lutam contra a corrupção e contra a impunidade. Bem-aventurados os que, apostolados, empunham a bandeira da ética na política", disse.

Simon também defendeu a conduta no STF no julgamento do mensalão do PT, considerado pelo peemedebista como um "divisor de águas" no combate à impunidade no país. "O Supremo Tribunal Federal deu um enorme passo ao combater o que eu sempre defendi ser o maior de todos os males brasileiros: a impunidade."

Devoto de São Francisco de Assis e conhecido entre os colegas como "senador franciscano", Simon usou como base em seu discurso a oração do santo e diversas passagens bíblicas, sempre aplicadas a temas do cotidiano e de sua história política.

"Acho que mais recebi, do que doei. Acho que mais fui perdoado, do que perdoei. Acho que mais vivi, do que morri. Mas eu lutei, confesso que lutei", disse, emocionado.

A mulher de Simon, seu filho e a neta sentaram na primeira fileira do plenário para acompanhar seu discurso de despedida. Emocionado, Simon chorou ao ser aplaudido de pé pelos colegas presentes ao final da sua fala. Disse que o dia 1º de fevereiro de 2015 será o primeiro, depois de 60 anos, em que vai acordar sem ter mandato no Legislativo. Só no Senado, Simon está há 32 anos, somando três mandatos de oito anos consecutivos e um anterior –além do período em que foi deputado estadual e governador do Rio Grande do Sul.

"Em seis décadas, vou experimentar, pela primeira vez, uma vida sem o meu nome nas urnas. Votar, sem ser votado; escolher, sem ser escolhido", disse.

DISCURSO

Conhecido pelos discursos críticos ao governo e pela oratória desenvolvida, Simon disse que vai deixar "pouca saudade" àqueles a quem "incomodou" com suas palavras. "Mas deles eu também não levarei qualquer rancor. Transformei-o, deste pranto, em esperança."

No discurso, o senador lembrou da morte de um dos filhos em um acidente automobilístico, na época da Constituinte. Também citou a morte de uma sobrinha neta na noite desta terça (9), a quem dedicou parte de suas palavras. E fez um breve histórico de sua vida política, especialmente no tempo da Constituinte, ao lado de Ulysses Guimarães.

O senador disse que vai deixar o Senado com a "sensação do dever cumprido". E disse que vai dedicar seu tempo livre para leituras, conversas com amigos e à família. "Terei mais tempo agora para conviver com a minha família. Para aprender a ser feliz como a minha querida neta. Terei mais tempo, enfim, para conhecer melhor a mim mesmo."

HOMENAGENS

O peemedebista recebeu homenagens de mais de 20 senadores ao longo de seu discurso. Amigo pessoal de Simon, Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que o peemedebista vai deixar sua marca pela "luta incansável pela democracia".

O senador Luiz Henrique (PMDB-SC) prometeu sugerir ao comando do Senado para deixar a cadeira que Simon ocupava no plenário vazia, em homenagem à memória do parlamentar.

Neto do ex-presidente Tancredo Neves, Aécio Neves (PSDB-MG) fez um paralelo da história política do peemedebista e de seu avô. E disse que Simon vai exercer sua "liderança" mesmo fora da vida política.

"A minha geração de homens públicos continuará a ter em vossa excelência, a partir de 1º. de fevereiro do ano que vem, a mesma referência de dignidade, de honradez de espírito público e de enorme amor a esse país", afirmou.

Crítico PT e "dissidente" do PMDB, como Simon, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) lembrou dos mais de 40 anos de amizade com o senador, ainda na época em que eram filiados ao extinto partido MDB, e também criticou o governo do PT.

"O PMDB, cumpre um triste papel de se agarrar e se confundir com o que há de mais podre neste país, que é o governo e que é o PT. (...) São pessoas que queriam um partido, não um partido puro, porque não existe partido puro, mas um partido honesto, um partido correto, um partido sem ladrões, um partido sem vagabundos, que usam o partido para desmoralizá-lo", atacou Jarbas.


Endereço da página: