Folha de S. Paulo


Fundadora do Tortura Nunca Mais considera frustrante relatório da CNV

Frustração é a palavra usada por Cecilia Coimbra, 73, para definir o resultado do relatório final da Comissão Nacional da Verdade apresentado nesta quarta-feira (10).

Presa durante o regime militar e fundadora do Grupo Tortura Nunca Mais, ela classifica o documento como superficial e critica a influência de forças políticas dentro do governo federal nos rumos do trabalho da Comissão.

"Falar em 'violações de direitos humanos' é uma balela. O que houve foi tortura institucionalizada pelo Estado brasileiro. A comissão substituiu 'tortura' por 'violação de direitos humanos'. Foi uma forma de amenizar as acusações aos militares", disse Cecília, que lamentou o teor do relatório final.

"Me sinto muito frustrada, revoltada, indignada."

Para Cecília Coimbra, a investigação da Comissão Nacional da Verdade não avançou ao longo dos dois anos e sete meses de trabalho. Ela questiona, por exemplo, a lista de 377 pessoas apontadas no relatório como responsáveis por violações aos direitos humanos, entre 1946 e 1988.

"É importante responsabilizar, sim. Só que mais importante seria saber: onde aconteceu e como aconteceu? Essas perguntas não foram respondidas. Também não sabemos o que aconteceu com os desaparecidos. Esta história está sendo contada de acordo com os interesses das forças que estão no poder."

CERIMÔNIA

A presidente Dilma Rousseff se emocionou e chorou durante a cerimônia de entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, realizada na manhã desta quarta no Palácio do Planalto.

Em seu discurso, ao lembrar das pessoas que morreram durante o regime militar, Dilma interrompeu seu discurso e chorou por alguns instantes.

"As novas gerações mereciam a verdade, e principalmente aqueles que perderam... [chora] Que continuam sofrendo como se eles morressem de novo a cada dia", disse a presidente, que foi longamente aplaudida neste momento. Dilma foi presa e torturada durante a ditadura.

Após dois anos e sete meses de trabalho, a CNV concluiu o relatório, com cerca de 2.000 páginas. O documento foi entregue a Dilma pelo coordenador da CNV, Pedro Dallari.

O texto relata as investigações do colegiado sobre atos de violações de direitos humanos durante os anos de 1946 e 1988.

"Espero que esse relatório nos permita reafirmar a absoluta aversão que devemos ter ao autoritarismo e a ditaduras de qualquer espécie. Que o relatório contribua para que fantasmas de um passado doloroso e triste não possam mais se esconder", disse a presidente.


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