Folha de S. Paulo


Dilma recebe relatório da Comissão da Verdade e chora ao lembrar mortos

Alan Marques/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff chora durante a cerimônia da Comissão Nacional da Verdade
A presidente Dilma Rousseff chora durante a cerimônia da Comissão Nacional da Verdade

A presidente Dilma Rousseff se emocionou e chorou durante a cerimônia de entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, realizada na manhã desta quarta-feira (10) no Palácio do Planalto.

Em seu discurso, ao lembrar das pessoas que morreram durante o regime militar, Dilma interrompeu seu discurso e chorou por alguns instantes. Ainda com a voz embargada, ela retomou a sua fala.

"Vou repetir o que eu disse quando lançamos a Comissão Nacional da Verdade. Disse que o Brasil merecia a verdade, as novas gerações mereciam a verdade, e principalmente aqueles que perderam... [chora] Que continuam sofrendo como se eles morressem de novo a cada dia", disse a presidente, que foi longamente aplaudida neste momento. Dilma foi presa e torturada durante a ditadura.

Após dois anos e sete meses de trabalho, a CNV concluiu o relatório, com cerca de 2.000 páginas. O documento foi entregue a Dilma pelo coordenador da CNV, Pedro Dallari.

O texto relata as investigações do colegiado sobre atos de violações de direitos humanos durante os anos de 1946 e 1988. A cerimônia foi acompanhada por ministros e demais autoridades do governo, além de integrantes de entidades ligadas aos direitos humanos, vítimas do período militar e familiares dos que já morreram.

"Espero que esse relatório nos permita reafirmar a absoluta aversão que devemos ter ao autoritarismo e a ditaduras de qualquer espécie. Que o relatório contribua para que fantasmas de um passado doloroso e triste não possam mais se esconder", disse.

Em seu discurso, Dilma afirmou que a conquista da democracia se deve à luta de milhares de pessoas, homens e mulheres livres, e a pactos políticos que foram sendo consolidados ao longo dos anos. "Nós reconquistamos a democracia a nossa maneira, por meio de pactos e acordos nacionais que estão muitos deles traduzidos na Constituição de 1988. Assim como respeitamos e reverenciamos, e assim o faremos, a todos os que lutaram enfrentando bravamente a truculência ilegal do Estado", disse.

"O trabalho dessa comissão demonstrou importância do conhecimento desse período para não mais se repetir. Devemos isso não só à minha geração, que sofreu as consequências, mas para a maioria dos brasileiros, nascida depois, que não teve acesso à verdade histórica. Conhecimento é imprescindível", completou.

A presidente ressaltou ainda o caráter histórico do documento e disse que ele não pode servir para "revanchismo" ou para incitar o "ódio". "Ao receber esse relatório, eu tenho certeza de que ele encerra uma etapa e ao mesmo tempo dá início a uma nova etapa que demarca um novo tempo. [...] A verdade não deve ser um revanchismo, não deve ser motivo para ódio. [...] A verdade significa acima de tudo a oportunidade de fazer um encontro com nós mesmos da nossa história. A verdade é uma homengem a um Brasil que já trilha três décadas de democracia", disse.

Roberto Stuckert Filho - 10.dez.14/PR
Presidente Dilma Rousseff durante entrega do Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade
Dilma Rousseff durante entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdade

Antes de entregar o relatório à presidente, Dallari afirmou que a comissão sugere ao governo a criação de um novo órgão que possa continuar as investigações sobre crimes cometidos na ditadura para identificar novas vítimas. "Estou certo de que o rol de vítimas identificados pela Comissão Nacional da Verdade ainda não é definitivo", disse.

Ao encerrar o discurso, Dallari agradeceu o trabalho da comissão e disse que ele e os demais integrantes têm convicção de que os crimes cometidos na ditadura militar não voltarão a acontecer. "Ao final desse trabalho, fizemos o que estava ao nosso alcance, cumprimos o que a lei determinou. Ao entregar esse relatório, eu tenho a firme convicção de que nele descritos não se repetirão nunca mais", disse.


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