Folha de S. Paulo


Aécio quer se diferenciar de Alckmin ao atacar Dilma

"Nós vamos perder, mas vamos sangrar esses caras até de madrugada." A frase foi dita pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) a seus aliados no Congresso na véspera da votação do projeto que desobriga o governo a economizar o que estava previsto no ano.

Mais do que o tom motivacional que o mineiro tem usado com sua tropa, a frase revela um estilo: "Eu estabeleci um patamar de oposição e não vou descer um degrau", disse a um interlocutor.

A estratégia tem como foco mantê-lo como "o rosto da insatisfação com o governo Dilma Rousseff", mas despertou críticas dos adversários e temor nos aliados.

Alan Marques - 4.dez.2014/Folhapress
O senador Aécio neves (PSDB-MG), em discurso na tribuna
O senador Aécio neves (PSDB-MG), em discurso na tribuna

Na última quinta-feira (5) a presidente sintetizou, sem citar Aécio, as queixas do PT. Em evento ao lado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), Dilma pediu "respeito ao resultado das urnas" e disse que era preciso reconhecer a vontade expressa pela população na eleição.

O fato de a petista dizer o que disse e como disse evidenciou Aécio como o alvo da mensagem. Mas ao fazê-lo ao lado do governador tucano que desponta como principal rival interno do mineiro para a candidatura ao Planalto em 2018, ela gerou ao adversário um desconforto adicional.

Aécio dá de ombros às análises de que promove um "terceiro turno" com suas declarações sobre a ilegitimidade do governo: "Nós não vamos nos inibir com esses discursos. Essa reação mostra o incômodo deles. Pela primeira vez o PT está conhecendo oposição e, além disso, uma coisa nova: a oposição conectada com a sociedade", afirmou o tucano a um aliado.

A segurança do senador de que esse é o caminho certo destoa da opinião de alguns de seus principais aliados. Na última sexta, Aécio gravou um vídeo convocando pessoas a comparecerem a um ato anti-Dilma em São Paulo.

Na fala, fez a ressalva de que o ato deveria acontecer "sempre nos limites da democracia" por saber que saudosos da ditadura participaram dos protestos anteriores.

Foi a primeira vez que Aécio emprestou seu rosto aos mobilizadores do ato. Alguns tucanos viram um risco no gesto: para eles, ao estabelecer uma relação com esses movimentos, o mineiro se mistura a atos sobre os quais não tem controle absoluto.

Para os mais prudentes, ao se aproximar de setores que pedem um golpe Aécio corre o risco de ser vinculado a eles: "Basta olhar para o PSDB. Quem são nossos quadros? São pessoas que lutaram pela democracia. Isso não cola", tem dito o senador a quem o questiona sobre o assunto.

A postura incisiva não visa só desgastar Dilma: Aécio quer se diferenciar de Alckmin de olho em 2018. Mas aliados do paulista advertem: "Aécio não se segura quatro anos com factóides. Em algum momento a estrutura e a paciência de Alckmin farão a diferença", diz um interlocutor político do governador.


Endereço da página: