Folha de S. Paulo


Governo divulga na próxima semana resultado da exumação de Jango

O governo deve divulgar na próxima segunda-feira (1º) o resultado da perícia que analisou os restos mortais de João Goulart (1919-1976), cuja deposição da Presidência em 1964 iniciou a ditadura militar, anunciou nesta terça-feira (25) a Secretaria de Direitos Humanos.

De acordo com nota da secretaria, "os peritos trabalharão nos laudos encaminhados pelos laboratórios estrangeiros entre hoje e segunda-feira, quando o resultado oficial será apresentado à família e depois tornado público".

O trabalho, feito a pedido da família de Jango, como Goulart era conhecido, pode revelar se ele foi ou não morto por envenenamento em seu exílio na Argentina.

Acervo UH/Folhapress
O presidente João Goulart, conhecido como Jango, em 1963
O presidente João Goulart, conhecido como Jango, em 1963

Cardíaco, ele sofreu um ataque do coração. Mas há anos seus familiares afirmam que ele pode ter sido morto numa ação da Operação Condor – nome do trabalho conjunto das ditaduras do Cone Sul para assassinar opositores.

Os resultados, que podem também ser inconclusivos, devem constar do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, criada para elucidar as violações aos direitos humanos durante a ditadura.

ATROPELO

A divulgação do calendário sobre o resultado da exumação provocou um mal-estar entre o governo e a família de Jango. Neto do ex-presidente, o advogado Christopher Goulart, 38, fez uma reclamação nesta terça à ministra Ideli Salvatti (Direitos Humanos).

Ele afirmou que o governo tentou excluir a família de forma proposital nesse fase inicial para a publicidade do resultado. Christopher argumentou que o governo descumpriu um protocolo internacional que prevê a participação da família no processo.

A Secretaria de Direitos Humanos informou aos familiares que o evento para a apresentação do calendário seria no meio da tarde, mas a imprensa foi convidada para reunião pela manhã.

"Existem termos que foram descumpridos. Há um protocolo internacional a ser seguido. A família não esteve presente no ato de hoje. O que eu percebi é que foi deliberada de forma intencional para a família não participar do anúncio. Não houve preocupação do governo nesse sentido", afirmou o neto de Jango.

Ele cobrou sensibilidade do governo com o caso. "Não é uma coisa tão simples. Não desconheço a autoridade, a autonomia da ministra, mas eu coloquei para ela que não pode desconhecer que existe a família, que precisa ser considerada. Estamos tratando de direitos humanos e nada mais humano do que respeitar o direito de uma família", afirmou.

E completou: "Não é só o interesse público que existe por ser chefe de Estado, mas existe o zelo porque ele é pai de família, um avô e esses interesses tem que ser contemplados".


Endereço da página: