Folha de S. Paulo


Papéis de coronel morto provam existência da Operação Condor

Documentos das Forças Armadas que estavam em posse do coronel reformado Paulo Malhães, morto em abril, comprovam que a Operação Condor –o canal de cooperação entre os órgãos de repressão das ditaduras da América do Sul na década de 70– de fato existiu e era de interesse dos militares.

Como revelou no domingo (23) o jornal "O Globo", o Ministério Público Federal encontrou na casa do coronel, que morreu durante assalto à sua residência em Nova Iguaçu (RJ), dois relatórios produzidos entre 1978 e 1979 sobre a "Operação Gringo".

O foco principal desta operação era acompanhar os movimentos no país de esquerdistas dos "Montoneros" da Argentina, descritos pelos militares do CIE (Centro de Informações do Exército) como integrantes de "organização subversiva e terrorista".

O texto afirma que o Brasil foi "de 1977 até o desaparecimento do montonero Norberto Habbeger" a base mais importante da organização argentina na América do Sul.

Habbeger, jornalista e militante, teria sido sequestrado no Rio de Janeiro em agosto de 1978 em uma suposta cooperação de militares brasileiros e argentinos. Seu corpo jamais foi localizado.

Além de relatórios aprofundados sobre as atividades dos argentinos em solo brasileiro, a "Gringo" também monitorava brasileiros com quem eles se relacionavam.

Um exemplo é o governador do RS e do RJ Leonel Brizola, morto em 2004. Segundo os informes, ele contatou os montoneros nos EUA no período em que lá se exilou.

Os documentos que estavam em poder de Malhães incluem um relatório em espanhol chamado "Operação Congonhas". O informe expõe a organização de diversos grupos de esquerda da Argentina e provavelmente foi produzido pelas Forças Armadas do país vizinho.

A existência de uma rede de informações unindo as ditaduras latino-americanas, chamada operação Condor, é de conhecimento geral. Mas é a primeira vez que um documento das Forças Armadas comprova sua existência.


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