Folha de S. Paulo


Opinião: Morreram dois Márcios Thomaz Bastos

Vários Márcios disputam entre si, agora, sua própria memória.

Há o Márcio advogado de grandes causas, muitas ingratas, várias perdidas. Mas todas ganham quando através delas se assegurou o contraditório, o direito de defesa, sem os quais o estado democrático não há.

Será que existem causas perdidas de antemão?

Como advogado, foi estrategista.

Definia a diretriz e o próximo lance.

Seu, e do seu adversário também.

Calculava o benefício da vitória e o controle do dano na derrota, ao mesmo tempo.

Sua especialidade foi administração dos riscos das causas arriscadas.

Mas há também o Márcio "Pedro pedreiro", construtor de instituições.

Foi ativista do PT, foi liderança na democratização.

Sem ele, Nelson Jobim e José Jorge, inexistiria o Conselho Nacional de Justiça.

Como interlocutor, ajudou presidentes a criar um novo Supremo pós-1988, muito mais independente.

Deu início a uma Polícia Federal feita de ousadias.

Um dos criadores do Prêmio Innovare.

Avalizou, diante de tendências de ambições nem sempre democráticas, soluções judiciais para crises políticas e éticas.

Não buscou unanimidades em sua vida.

Elegante, foi romano e florentino.

Viveu o nem sempre discreto risco da vida. Decidiu não ser um observador. Preferiu agir. Existe mais esperança do que agir?

* JOAQUIM FALCÃO é doutor em educação pela Université de Génève, mestre em direito pela Universidade Harvard (EUA), e bacharel em Direito pela PUC-RJ. É diretor da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e foi Conselheiro do Conselho Nacional de Justiça de junho de 2005 a junho de 2009

Trajetória de Márcio Thomaz Bastos


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