Folha de S. Paulo


Ato contra Dilma leva 150 a Copacabana; Jair Bolsonaro é tietado

Um grupo de 150 pessoas, segundo estimativas da Polícia Militar, se reuniu na tarde deste sábado (15), feriado da proclamação da República, para protestar contra a presidente Dilma Rousseff e seu partido, o PT, no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio.

A estrela do ato político e alvo de assédio do pequeno contingente era o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ).

O tom do encontro, organizado diante do hotel Copacabana Palace, era basicamente de exaltação das Forças Armadas e pela derrubada da presidente por, segundo eles, associação a regimes comunistas e suposta atuação para a supressão da democracia no país.

Murilo Rezende/Futura Press/Folhapress
O deputado federal Jair Bolsonaro participa do protesto pedindo o impeachment da presidente Dilma
O deputado federal Jair Bolsonaro participa do protesto pedindo o impeachment da presidente Dilma

Entre os militantes, muitas camisas da seleção brasileira de futebol, bandeiras e lenços inspirados na bandeira nacional.

A maioria segurava cartazes pedindo a prisão de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com citações ao escândalo da Petrobras que está sob investigação da Polícia Federal e críticas ao trabalho da imprensa.

Ao lado do filho, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), o deputado federal deixou fluir o coro que clamava por seu nome como candidato a presidente em 2018.

"Pior que a corrupção é este trabalho do PT, do PSOL e do PC do B de roubar a nossa liberdade" afirmou Bolsonaro pai, acrescentando que o governo estimula a divisão entre brasileiros por questões regionais, financeiras e raciais.

"O Bolsa Família é um projeto dessa turma de esquerda para através de esmola, buscando a acomodação dos mais pobres, tentar impor aqui a ditadura do proletariado".

O deputado federal defendeu o direito ao porte de arma e criticou personagens que, segundo ele, são romantizados pelo discurso da esquerda. Fez criticas nominais a Dilma, ao ex-marido dela, Carlos Araújo e ao ex-deputado Rubens Paiva, torturado e morto pelos aparelhos de repressão da ditadura militar (1964-1985).

"Sei a história dele. Não é esse santo que pregam por aí. Esse cidadão (Rubens Paiva), na casa em que ele vivia com a família floresceu uma base de guerrilha para Carlos Lamarca", afirmou.

Bolsonaro disse ainda que "a direita é tudo que a esquerda não é" e afirmou que "é preciso uma candidatura que represente este grupo para 2018". Na plateia, gritos repetidos de "fora petralhas" e de que "(2018) é muito tempo pra esperar", sugerindo a retirada imediata da presidente Dilma –que sequer tomou posse ainda em seu segundo mandato.

Outro argumento que revolta o movimento da direita no Rio e que também foi explorado pelo deputado federal é a mudança do nome da ponte Rio-Niterói, chamada de "Presidente Artur da Costa e Silva".

Um projeto que tramita no Congresso propõe que a ponte se chame Herbert de Souza –em homenagem a Betinho (1935-1997), o sociólogo exilado durante o regime militar. "A ponte não vai mudar de nome porque nós não vamos permitir", disse Bolsonaro pai.

BATMAN NO ATO

A manifestação no Rio reuniu um grupo diversificado. Habitué dos protestos mais voltados à esquerda deflagrados desde 2013, o Batman das marchas do centro da cidade também participou do ato da direita de Copacabana.

Eron Mello, um protético de Marechal Hermes, zona norte da capital fluminense, diz que sua atuação não tinha viés político e que não vê incoerência entre diferentes grupos de indignados.

"No início era contra a corrupção, preço das passagens, gastos da Copa. Acho que é o nosso papel. Fiscalizar e pressionar o governo", disse.

Enquanto Batman tirava fotos com os militantes, um grupo de senhoras bradava pela volta dos militares ao poder. Duas delas, por duas vezes, puxaram o coro para a canção "Fibra de Herói", uma marcha marcial de exaltação ao Exército e à Marinha. Os versos dizem assim:

"Bandeira do Brasil, ninguém te manchará/ Teu povo varonil, isso não consentirá/ Bandeira idolatrada, altiva a tremular/ Onde a liberdade é mais uma estrela a brilhar".

O que variava entre os manifestantes era a disposição de tirar Dilma do poder. A proposta de um golpe já, "com o apoio da população, como em 1964", foi repetida por alguns ao microfone.

Outros preferem esperar 2018, e um terceiro grupo parece defender a saída do PT já, mas a partir das regras constitucionais e de um impeachment conforme previsto na lei.

Luiza Coppoli, de 70 anos, moradora do Flamengo, zona sul do Rio, se diz indignada com tudo que está aí, mas prega a prudência contra Dilma. "Acho que não chegamos neste ponto (de depor Dilma). Mas estamos a caminho", afirmou a aposentada.

PADRE APOIA MANIFESTAÇÃO

A chuva fina espantou alguns participantes. Outros exibiam seus cartazes diante dos carros a cada vez que o semáforo ia para o vermelho. Em um canto, chamava a atenção a presença de um sacerdote católico.

A reportagem tentou entrevistá-lo, mas ele alegou que "traria problemas para o bispo" e que estava ali porque comungava dos ideais da direita, mas acreditava que sua presença seria mais importante em caso de alguma animosidade contra o protesto.

O grupo ao lado do padre que não quis se identificar criticou a imprensa, a quem apontou como cooptada pela esquerda. Para eles, Aécio Neves (PSDB), derrotado por Dilma em outubro, não pertence à direita. O sacerdote intervém: "A direita no Brasil deixou de existir depois de Carlos Lacerda".

Os demais concordam e riem. Enquanto isso, Bolsonaro segue posando para fotos com simpatizantes. No microfone, meia hora antes, acarinhara os apoiadores: "São poucos, mas valem pela qualidade".


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