Folha de S. Paulo


Doleiro usou agente federal para levar malas de dinheiro

A amizade entre Beto e Careca começou há pouco mais de dez anos em Foz do Iguaçu, na fronteira do Brasil com o Paraguai. Lá, Beto pediu que Careca transportasse uma mala de dinheiro para ser entregue a um cliente em outro ponto do Estado.

Começou aí uma relação de confiança que passou a ser tanta que ambos deixaram de se tratar pelos nomes e se chamavam apenas pelos apelidos. Beto é o doleiro Alberto Youssef. Careca é o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, 52.

Até esta sexta-feira (14), Oliveira Filho estava lotado na equipe da PF no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio. O policial foi um dos presos na sétima etapa da Operação Lava Jato.

O depoimento à Polícia Federal da doleira Nelma Kodama, ex-namorada de Alberto Youssef, o Beto, e também presa na Lava Jato, começou a revelar os laços desta amizade à favor do crime.

O policial usou o cargo, segundo as investigações, para transportar dinheiro para Youssef sem ser revistado. Usou voos comerciais, jatos particulares e até carros blindados para cumprir as tarefas.

A polícia interceptou 66 conversas telefônicas entre o doleiro e o policial. Em uma delas, Oliveira Filho levou dinheiro em uma mala até um escritório da empresa UTC, em Belo Horizonte, alvo de buscas nesta sexta.

Quando os policiais federais entraram em seu apartamento, na zona sul do Rio, pouco depois das 6h, encontraram o agente acompanhado com a mulher e o filho.

Ele se manteve calado e disse que só falaria em juízo. A Folha telefonou para a sua casa, às 17h42, mas ninguém atendeu. Em nota, a assessoria da PF declarou que "não presta informações sobre pessoas que eventualmente estão sob investigação".

Nas investigações da PF, o policial aparece como um dos quatro homens escolhidos por Youssef para transportar dinheiro em malas, maletas e até no próprio corpo e assim, agilizar a lavagem de dinheiro de seu esquema.

No caso de Oliveira Filho, a sua participação no grupo era também de informante. Em seu depoimento na PF, Nelma Kodama disse ter pago R$ 40 mil a Careca, como ela também o chama. O acordo é que assim ela receberia, antecipadamente, as perguntas que responderia em um depoimento que prestaria na PF do Rio sobre uma outra investigação.


Endereço da página:

Links no texto: