Folha de S. Paulo


Movimentos repudiam 'golpismo' em ato, mas mantêm distância de Dilma

Uma marcha organizada pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) partiu do vão-livre do Masp, nesta quinta-feira (13), na avenida Paulista, e conduziu cerca de 10 mil pessoas ao centro de São Paulo, segundo a PM; a organização estimou o público em 12 mil pessoas.

O protesto se contrapunha a uma manifestação anterior, que também ocorreu na avenida Paulista, realizada por eleitores anti-Dilma descontentes com o resultados das eleições. Na ocasião, os presentes pediam o impeachment da presidente e exibiam cartazes favoráveis a uma intervenção militar.

O tom do ato desta quinta foi de repúdio a uma possível volta do regime militar, cujo apoio foi classificado mais de uma vez como "golpismo". Por outro lado, os organizadores procuraram manter distanciamento da presidente Dilma Rousseff (PT), eleita com o apoio da maioria dos movimentos presentes ali, como sindicatos de bancários e professores, além de representantes de PSOL, PC do B e da CUT (Central Única dos Trabalhadores).

"É o mínimo que se esperaria, que ela [Dilma] realizasse o programa de mudanças para o qual foi eleita", disse o coordenador do MTST Guilherme Boulos, colunista da Folha. "Agora, é preocupante que os primeiros sinais da presidenta não tenham sido esses. Passou a campanha inteira dizendo que a Marina e o Aécio iam governar com banqueiros e cogita o presidente do Bradesco [Luiz Carlos Trabuco] para ministro da Fazenda. Isso é inaceitável", completou.

A candidata à Presidência pelo PSOL nas últimas eleições, Luciana Genro, fez coro: "Nós também vamos ter que enfrentar o governo se ele vai fazer o ajuste que ele está fazendo", disse, em cima do carro de som.

Outra bandeira levantada foi a da reforma política, por mais de uma liderança que falou ao público —faixas pedindo a mudança, por meio de um plebiscito, eram empunhadas.

Após deixar o vão-livre, os manifestantes percorreram a Paulista ao som de "Da Ponte pra Cá", dos Racionais MCs, cuja letra diz: "Playboy bom é chinês e australiano, fala feio e mora longe, não me chama de mano", trecho repetido ao microfone mais de uma vez.

Desceram a rua Augusta em direção aos Jardins (zona oeste), onde pararam em frente ao Hotel Renaissance, "símbolo da elite", de acordo com Boulos. Ali, organizaram um minibaile de forró, como maneira de criticar eleitores que hostilizaram nordestinos que votaram no PT. Durante a campanha, o hotel foi usado pela coordenação petista em mais de uma ocasião.

A manifestação percorreu mais ruas do bairro nobre, depois seguiu em direção à praça Roosevelt, na região central, onde terminou por volta das 21h30.

PARAR O PAÍS

Ao final do evento, Boulos reforçou a distância que o movimento que representa mantém de Dilma. Ele disse que, caso a petista corte investimentos em programas sociais no próximo ano, movimentos sociais irão fazer oposição ao seu governo. "Se cortar, ano que vem vai ser de ocupações, o país vai parar", declarou.

"Essa marcha é pelas conquistas contra a direita", explicou Boulos. "Fomos nós que elegemos a presidenta Dilma e não vamos deixar que a direita imponha a sua agenda", acrescentou.

Boulos argumentou que o PSDB, embora não assuma, tem posições de extrema direita.

"O PSDB na verdade tem vergonha em assumir suas posições, que em grande medida se assemelham com a extrema direita", disse Boulos. No dia do protesto contra Dilma, Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB e ex-governador de São Paulo, disse que nem a sigla nem a direção da campanha do senador Aécio Neves (MG) incentivam, organizam ou dão suporte às manifestações contra a presidente.


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