Folha de S. Paulo


Em meio a denúncias, PT defende enfrentamento da corrupção

Alan Marques/Folhapress
O presidente do PT, Rui Falcão, comanda reunião da Executiva Nacional da sigla
O presidente do PT, Rui Falcão, comanda reunião da Executiva Nacional da sigla

Na primeira reunião após a reeleição da Dilma Rousseff, a Executiva Nacional do PT divulgou uma resolução que defende que a legenda seja mais proativa "no enfrentamento das acusações de corrupção".

O texto também sustenta que a presidente se alinhe mais com partidos de esquerda, a fim de um segundo mandato exitoso.

A Folha apurou que, durante a reunião, houve cobranças para que o PT divida com aliados a responsabilidade pelos escândalos.

Houve declarações duras de que o partido não pode mais deixar cair sobre seu colo a culpa por atos de aliados, e que a aliança com o PMDB está fadada ao fim.

As afirmações ocorreram na presença do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que é acusado de intermediar recursos desviados de obras da estatal para o partido. Ele não teria se manifestado.

O texto aponta que o PT "tem que retomar sua capacidade de fazer política cotidiana, sua independência frente ao Estado, e ser muito mais proativo no enfrentamento das acusações de corrupção, em especial no ambiente dos próximos meses, em que setores da direita vão continuar premiando delatores".

A citação faz referência ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Yousseff, que acertaram delações premiadas no âmbito da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga esquema de desvio de recursos na Petrobras.

No momento em que a presidente deve intensificar as conversas para a montagem de sua nova equipe econômica, o PT deixa claro que pretender interferir mais no segundo mandato petista, inclusive nesta área.

"O PT deve buscar participar ativamente das decisões acerca das primeiras medidas do segundo mandato, em particular sugerir medidas claras no debate sobre a política econômica, sobre a reforma política e em defesa da democracia nos meios de comunicação. É preciso incidir na disputa principal em curso neste início do segundo mandato: as definições sobre os rumos da política econômica."

Na resolução, os petistas ainda falam que é preciso garantir o "controle democrático e republicano sobre as instituições que administram a economia brasileira, entre as quais o Banco Central, a quem compete, entre outras missões, combater a especulação financeira". O papel do BC foi intensamente discutido na campanha, com adversários de Dilma defendendo autonomia da instituição.

O documento ainda aponta como prioridade do partido no Congresso temas espinhosos ao governo, como o fim do fator previdenciário, a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais e a posição favorável à revisão da Lei da Anistia.

GOLPE

Numa resposta aos protestos que questionam a legitimidade da vitória de Dilma, a sigla prepara uma mobilização social para a posse da petista em 1º de janeiro, numa tentativa de reeditar a posse do ex-presidente Lula em 2002.

Para o partido, o pedido do PSDB para uma auditoria especial no resultado dos votos, diante de dúvidas levantadas pela internet, representa um golpe.

"Inconformada com a derrota, a oposição cai no ridículo ao questionar o resultado eleitoral no TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e pede sugestões para afastas manobras golpistas", diz o documento.

A resolução traz uma série de autocríticas, como a de que o partido precisa se reinventar, sustentando que é "preciso dialogar com o povo, condição vital para um partido de trabalhadores".

O PT fez questão de destacar o empenho pessoal de Dilma na vitória tratada como histórica, principalmente pelo desgaste do partido em 12 anos de poder.

O partido também diz que o oposicionista derrotado Aécio Neves (PSDB), além de representar o retrocesso neoliberal, "incorreu nas piores práticas políticas: o machismo, o racismo, o preconceito,o ódio, a intolerância e a nostalgia da ditadura militar".

CÂMARA

No encontro, petistas defenderam o lançamento de uma candidatura própria para a Presidência da Câmara, em contraponto a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é pré-candidato.

Não há consenso, porém, na bancada da Casa. Há quem defenda um nome de fora da legenda para tentar derrotar o peemedebista, que é considerado desafeto do Planalto.

Em mais um sinal de atrito com a base aliada, o texto faz defesa de temas que contrariam posições de aliados e até votações recentes.

O PT defende o decreto presidencial sobre os conselhos populares, derrubado na última semana na Câmara e a proposta de reforma política com plebiscito e a formação de uma Assembleia Constituinte exclusiva.


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