Folha de S. Paulo


Opinião: A constelação vermelha

O petismo disputou as eleições presidenciais com sete candidatos. Cada um deles resume um momento da evolução do partido.

Rui Costa Pimenta (PCO), José Maria (PSTU) e Mauro Iasi (PCB) são fundadores do PT. Personificam a "primeira geração" vermelha. Defendem uma Revolução Socialista –propõem a estatização dos bancos, a desapropriação dos latifúndios, a moratória da dívida externa. Todas essas bandeiras constavam dos primeiros programas do PT, nos anos 80. Foram abandonadas a partir de 1989, quando a sigla vislumbrou, pela primeira vez, uma possibilidade real de chegar ao poder. Os grupos radicais foram expurgados.

Luciana Genro (PSOL) representa a "segunda geração", a da Revolução Democrática. Em vez de estatizar a economia, a legenda passou a priorizar nos anos 90 a redução da jornada de trabalho, o imposto sobre grandes fortunas, a renegociação da dívida pública. Mas essas metas só poderiam ser acolhidas pelo governo se o PT tivesse sólida maioria no Congresso. Luciana e seus companheiros bateram de frente com Lula e foram expulsos em 2003.

Dilma Rousseff aderiu ao PT só em 2001, vinda do brizolismo. Integra a "terceira geração", aquela que implementou um extenso conjunto de medidas para reduzir a pobreza –o que garantiu ao partido a admiração do eleitorado mais carente.

O petismo suavizou assim a sua doutrina até chegar a uma diretriz aceitável à maioria: o fim das desigualdades sociais deu lugar à diminuição das desigualdades, e esta foi substituída pelo combate à miséria. Essa longa marcha rumo ao centro rendeu ao PT quatro vitórias consecutivas à Presidência –um feito inédito–, mas lhe custou a multiplicação de dissidências à esquerda.

E também não impediu cisões à direita. Eduardo Jorge (PV) e Marina Silva (PSB) expressavam reivindicações não econômicas da legenda (universalização da saúde, preservação ambiental) e saíram em 2003 e 2009, respectivamente. Representam eleitores de classe média que, tendo vivenciado certa ascensão social, já não se identificam com o discurso em prol dos pobres.

Hoje o PT chegou a uma encruzilhada: o êxito de seus programas sociais tem reduzido, a cada eleição, a massa de excluídos que o apoia. A votação da sigla no primeiro turno caiu de 48,6%, em 2006, para 46,9%, em 2010, e agora para 41,6%.

Restam ao partido duas opções. A primeira é retomar a sua agenda antes da chegada ao poder –a que pregava a redução das desigualdades sociais. Essa guinada para a esquerda teria forte apoio na legenda, mas seria rejeitada no Congresso. Teria mais chances de êxito se o PT tivesse ido para a oposição.

A segunda opção é manter a linha centrista, mas reforçar o papel do Estado como indutor do crescimento. O nacional-desenvolvimentismo nascido da Revolução de 1930 ainda é capaz de soldar uma grande coalizão. O ideário de Dilma é o mesmo que impulsionou Getúlio, Juscelino e Geisel. O intervencionismo estatal não é uma escolha fortuita: responde a uma necessidade estrutural. Resultados eleitorais talvez sejam fruto do acaso. Mas a história do país está inscrita nas estrelas.


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