Folha de S. Paulo


Análise: Acertos mostram a adequação da metodologia do Datafolha

Os acertos de resultados do Datafolha no 2º turno provam a adequação da metodologia do instituto para acompanhar o processo eleitoral por mais que se apresente equilibrado o cenário da disputa.

A comparação com o 1º turno ajuda a compreender o quanto fatores conjunturais e erros não amostrais, alheios ao controle do instituto, podem ou não gerar movimentos de última hora e influenciar o resultado da eleição.

É o que explica o fato de pesquisas de véspera, com a mesma metodologia e com o mesmo rigor, apresentarem no 1º turno resultados mais distantes e no 2º resultados mais próximos dos oficiais.

O objetivo de um instituto de pesquisas não é prever o resultado exato da eleição, mas sim contar sua história por meio de tendências estatísticas, como por exemplo a ascensão e queda de Marina Silva após a morte de Eduardo Campos e os efeitos de sua desconstrução tanto para a candidatura de Dilma quanto na alavancagem de Aécio.

A curva de retomada forte do tucano nos dias que antecederam o 1º turno possibilitaram ao instituto destacar a probabilidade de que ele enfrentaria Dilma no 2º. No dia da eleição, o dado com certeza foi considerado por muitos eleitores na decisão do voto.

E o eleitor está cada vez mais exposto à informação, com parcela significativa recebendo estímulos instantâneos em tempo real. Além da capilaridade do rádio e da TV, as redes sociais concentram vetores importantes para a formação do voto. Como consequência, mostram-se mais volúveis e indecisos, muitas vezes até no dia da eleição.

Na véspera, os institutos medem as "intenções" do eleitorado. Votar como de fato pretende, como revela ao pesquisador, tem se revelado um desafio cada vez maior.

A culpa não é do eleitor. O excesso de cargos em disputa e a ordem ilógica das eleições, que solicitam os votos de deputados estaduais, federais e senadores antes do de governador e presidente, já se provou inadequada. Nenhum outro sistema eleitoral do mundo pressupõe a digitação de um emaranhado de algarismos para a escolha de seus representantes, ainda mais antes dos cargos do Executivo.

O sistema induz parte do eleitorado ao erro, potencializando votos nulos e os votos nas legendas. Não há metodologia que consiga prever erros não amostrais, principalmente quando sua origem é o sistema que teoricamente deveria anulá-los para garantir a legitimidade do processo.

Em vez das ameaças de censura às pesquisas, a Justiça Eleitoral poderia contratar um instituto que forneça subsídios para adequar o sistema e a ordem de votação às características do eleitorado.

Editoria de Arte/Folhapress

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