Folha de S. Paulo


Desafio de Dilma é recuperar confiança fiscal e de empresários

O desafio número um da presidente reeleita Dilma Rousseff é resgatar a confiança que perdeu tanto pela piora na área fiscal quanto pelo desgaste na relação com o setor produtivo.

O preço de não recuperar essa credibilidade pode ser um cenário de turbulência, com fuga de capitais, alta do dólar, repique inflacionário e aumento do desemprego.

Essa é a opinião de economistas, entre os quais alguns que participaram do governo PT. A piora das contas públicas –com o aumento dos gastos e da dívida do governo– pode levar o Brasil a ter a nota de crédito rebaixada.

O Brasil é grau de investimento na avaliação das agências de classificação de risco, o que equivale a um selo de que é seguro investir no país.

"Se a política econômica não mudar, o risco de um rebaixamento é alto", diz Otaviano Canuto, consultor do Banco Mundial e ex-secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda no primeiro governo Lula.

Segundo o economista Marcos Lisboa, vice-presidente do Insper, não há saída fácil. O governo precisará tomar medidas como reduzir subsídios e rever desonerações ao setor privado ou aumentar impostos.

Outro desafio é levar a inflação à meta de 4,5% ao ano –atualmente está em 6,75%.

Os economistas ressaltam que mesmo que as metas não sejam atingidas em 2015, é necessário que haja um progresso gradual.

"O importante é que as promessas sejam entregues", afirma Lisboa, que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no primeiro mandato de Lula.

Parte do desgaste do governo nos últimos anos foi consequência de não cumprir a meta para o superavit primário e lançar mão de truques para melhorar as contas.

"O mais importante agora é o compromisso com uma política fiscal crível de longo prazo", diz Bernard Appy, que também integrou o Ministério da Fazenda no primeiro governo de Lula.

NOVO MINISTRO

Para a economista Mônica de Bolle, o anúncio rápido de um novo ministro da Fazenda que inspire credibilidade pode ajudar. Guido Mantega, que ocupa o cargo há mais de oito anos, deixará a pasta.

"A presidente Dilma não tem tempo, nem margem de manobra", diz Mônica, que é sócia da consultoria Galanto.

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos conselheiros da presidente Dilma na área econômica, afirma que o principal atributo do novo ministro deve ser a competência de negociar com o empresariado e com trabalhadores.

"A capacidade de interlocução é até mais importante do que a técnica", disse ele.

Segundo Belluzzo, o crucial, neste momento, é recuperar o que chama de "empenho do setor privado" em obras de infraestrutura.

"A confiança dos empresários é muito importante. Se essa base produtiva estiver confortável, o setor financeiro vai acalmar", afirmou.

Para isso, diz ele, é preciso deixar para trás discussões que tentaram fixar o retorno dos empreendedores. "Já discutimos várias vezes a impropriedade de se fazer isso".

Adicionar estímulos, contudo, tem pouco efeito: "O governo pode decidir tentar estimular a economia, mas, se o setor privado não responde, você não consegue alcançar seu objetivo".

"2015 vai ser um ano difícil. É preciso ir com cautela e com firmeza. A questão crucial é recuperar o empenho do setor privado em participar dos investimentos em infraestrutura, ter uma boa relação e fazer com que o setor financeiro passe a apoiar isso", disse Belluzzo.


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