Folha de S. Paulo


Dilma diz esperar mercado se acalmar e que não discute reforma ministerial

Em sua primeira entrevista após ser reeleita, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira (27) que o recado dado nas urnas domingo (26) é de "mudança". Ela também negou discutir agora reforma ministerial e disse ter certeza que o mercado vai se acalmar.

A fala da petista ao "Jornal da Record", ocorre após o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechar o dia com desvalorização de 2,77%, e o dólar subir para níveis historicamente altos.

Dilma afirmou que ainda não vai anunciar medidas para a área econômica porque será preciso ouvir as demandas dos vários setores. "As Bolsas americanas caíram, as bolsas europeias caíram e o mundo está enfrentando muitas dificuldades. É verdade que [as bolsas] no Brasil caíram mais. As medidas vão ser essas de objeto de amplo diálogo com todos os setores", afirmou.

"Não se trata aqui de fazer um lista de medidas e sair dizendo como se eu chegasse e fizesse proposta. Não acho que esse é o caminho correto. O caminho correto é justamente da abertura de um diálogo. Temos que esperar o mercado acalmar, ele vai acalmar".

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Segundo analistas, o reflexo da eleição no mercado foi menor do que o esperado. Isso porque, dizem eles, o mercado não trabalhava com níveis tão altos, preparando-se para a vitória da presidente Dilma. Além disso, a sinalização de mais diálogo com o mercado também contribuiu para a redução das perdas durante o dia.

A presidente demonstrou incômodo com perguntas sobre o novo ministro da Fazenda, já que anunciou durante a disputa eleitoral a saída de Guido Mantega. Questionada se o perfil do presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, conforme informou a coluna Mônica Bergamo, na Folha, a petista subiu o tom.

"Você está lançando nome?", questionou à jornalista Adriana Araújo. "A imprensa está falando", respondeu. Dilma rebateu: "Você não é da imprensa?", perguntou.

Diante do mal-estar, Dilma disse que não vai ficar incentivando especulações sobre suas trocas ministeriais. "Eu gosto muito do Trabuco, mas acho que não seja o momento e a hora de discutir nomes para o próximo governo. No tempo exato, darei o nome e perfil", afirmou.

"Não vou discutir só um vou [ministro], vou discutir meu ministério. Nesse segundo turno das eleições eu disse: governo novo, ideias novas. Eu vou com muita tranquilidade. Não tenho menor interesse nem acho que isso é importante para o país fazer uma discussão desse tipo agora", completou.

Questionada se seria o momento de promover um choque de credibilidade para economia como o ex-presidente Lula fez em 2003, ela negou.

"A situação é completamente diferente. Quando Lula foi eleito e tomou posse em 2003, nós tínhamos uma taxa de desemprego de 11,4 milhões, o salário vinha de trajetória de queda, hoje temos uma situação de elevado emprego e os salários, estão eu diria assim com ganhos reais. Nós temos de tomar sim algumas medidas. Não são daquele tipo, a situação conjuntural econômica e politica é outra. Completamente diferente", disse.

Dilma afirmou ainda que não diria para o brasileiro diminuir o consumo e disse acreditar que 2015 será um bom ano.

"Não vou falar para o brasileiro diminuir o consumo porque está empregado e ganhando seu salário. Minha mensagem é de calma e tranquilidade. O Brasil vai estar melhor do que está hoje. Farei todo possível para que isso ocorra".

Dilma obteve 51,64% dos votos e Aécio, 48,36%. A diferença de votos foi de 3,4 milhões. A eleição presidencial deste ano foi a mais apertada que o Brasil já viu.

Apesar de Aécio não ter vencido, o resultado de hoje deu ao PSDB a maior votação que o partido já obteve na história.


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