Folha de S. Paulo


Análise: Dilma vence agora, mas deve enfrentar 3º turno tão ou mais difícil

Presidente vence agora, mas deve enfrentar 3º turno tão ou mais difícil

Dilma Rousseff venceu as mais disputadas eleições presidenciais desde a redemocratização, mas agora deverá enfrentar um "terceiro turno" tão ou mais difícil.

Na economia, esta segunda-feira (27) deve trazer uma grande turbulência que já está "precificada", para ficar no jargão do mercado financeiro. Não será surpresa se o dólar chegar a R$ 3.

Tudo ciranda normal, pode-se argumentar. Mas a pressão inflacionária do dólar alto vai dificultar ainda mais o cenário geral. Uma resposta melhor que a demissão prévia de Guido Mantega da Fazenda será esperada.

Vem ao encontro disso a crise política decorrente do escândalo da Petrobras. A partir do fim do ano deverá ficar mais sólido o que hoje é indício, e não há quem não considere o caso muito mais grave do que o do mensalão.

Num cenário extremo e a se confirmar o que diz a delação premiada, Dilma e Lula podem ser envolvidos. Mesmo sem isso, o PT sangrará de forma profusa, depois de uma eleição em que a sigla e corrupção eram associadas em pesquisas qualitativas.

Outros partidos aliados, PMDB à frente, também sofrerão baixas. Isso deixará o já fragmentário quadro de apoio parlamentar ao governo mais volátil –logo, propenso a apetites fisiológicos.

Politicamente, ainda que interlocutores neguem chance de ruptura, a tendência é a de uma tensão maior entre Dilma e seu criador político, Luiz Inácio Lula da Silva.

Apesar de ter reaparecido na campanha em sua reta final, um certo afastamento foi a marca do relacionamento entre os dois no governo e na disputa eleitoral. Alguma equação deverá ocorrer, visando a disputa de 2018.

O problema é que, para chegar lá, o PT precisa de Dilma e de um segundo mandato melhor que o primeiro, embora o cenário sugira dias ainda mais turbulentos.

Em favor de Dilma, há o argumento de que não se discute com resultados. Terá a autonomia que não teve em 2010-2011 na hora de nomear seu ministério, e tenderá a endurecer a relação com o PMDB e outros aliados.

Sem a pressão da reeleição, deverá aprofundar suas convicções, e é previsível mais atritos com a mídia.

Uma incógnita é a temperatura de um eleitorado dividido. O arrefecimento dos ânimos, registrado em outros pleitos, irá se repetir? Ou a "Kulturkampf" do "nós contra eles" alimentada pelo PT por 12 anos e amplificada pelos dois lados nas redes sociais irá espraiar para as ruas?


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