Folha de S. Paulo


Camilo Santana (PT) será o novo governador do Ceará

Com apoio dos irmãos Cid e Ciro Gomes, Camilo Santana (PT) foi eleito governador do Ceará neste domingo (26).

O ex-secretário do governo Cid teve 53% dos votos válidos, contra 47% do senador Eunício Oliveira (PMDB).

A eleição de Camilo representa um salto na presença do PT no Nordeste, região que concentra o maior percentual de beneficiários de programas sociais criados sob Lula e Dilma, em especial o Bolsa Família.

Nos próximos quatro anos, com Ceará, Bahia e Piauí, o partido governará 48% dos 56 milhões de habitantes da região.

Após a confirmação da vitória, Camilo disse que o resultado mostrou "a vitória da verdade contra a mentira".

A vitória do petista de 46 anos representa sobretudo uma vitória do grupo político liderado pelos irmãos Cid e Ciro (Pros), que foram fiadores da eleição de Camilo e agora conservam a hegemonia no Estado após os oito anos de governo Cid.

Ciro afirmou, após a confirmação da vitória, que o povo cearense "chutou a quadrilha do PMDB". "Eles fizeram acordos de cúpula em Brasília para chutar o povo, mas o povo chutou eles [sic]", disse.

No Ceará, além do governo estadual, o grupo dos Gomes já comanda também a capital, Fortaleza, com a gestão do prefeito Roberto Cláudio, também do Pros.

Há 26 anos um mesmo grupo político não conseguia manter essa "dobradinha". A última vez foi com a vitória municipal de Ciro, então no PSDB, aliado ao governador Tasso Jereissati (PSDB).

Camilo foi eleito numa coligação formada por 18 partidos e terá maioria na Assembleia Legislativa, com 22 dos 46 deputados eleitos, além do apoio de 14 federais.

Derrotado, Eunício desejou sorte a Camilo e disse que continuará atuando no Senado em apoio a Dilma.

EM CIMA DA HORA

O novo governador do Ceará nasceu no Crato (a 567 km de Fortaleza) e comandou duas pastas da atual gestão: foi secretário de Desenvolvimento Agrário (2007 a 2010) e das Cidades (2010 a 2014).

Sua indicação para a disputa foi bancada pelo próprio Cid, que preteriu outros cinco nomes de seu partido para formar uma base de aliança com o PT.

Os Gomes foram os principais organizadores da campanha de Camilo e influenciaram os rumos tomados durante as eleições –o que causou descontentamento em parte da militância petista.

O PT cearense abandonou o tradicional vermelho para adotar o amarelo do Pros. E o marqueteiro de campanha, Manoel Canabarro, foi o mesmo que dirigiu as campanhas de Cid em 2006 e 2010.

Na propaganda política, o principal mote foi a ligação com a presidente Dilma Rousseff (PT), que ficou neutra na disputa.

A campanha do petista foi a mais cara do Estado: gastou, segundo as parciais disponíveis, quase o dobro de Eunício Oliveira (R$ 11,3 milhões ante R$ 6,3 milhão).

Entre as principais promessas do governador eleito estão o aumento do número de escolas profissionalizantes, a adoção de um critério de pontuação para profissionais da saúde, o aumento do efetivo policial e a construção de dois hospitais públicos (um no interior e outro na Grande Fortaleza).

Camilo irá herdar o Estado com crescimento de 3% do PIB (dados do segundo semestre) e com dívidas a serem pagas a longo prazo.

Nos últimos dois anos, o governo Cid pegou emprestado R$ 7 bilhões para custear obras como a construção de delegacias, hospitais e também de um mega-aquário –orçado em R$ 270 milhões e com inauguração prevista para 2015.

Além disso, o Ceará vem enfrentando uma crise de abastecimento de água nos últimos quatro anos. Em decorrência da estiagem, 96% dos municípios cearenses estão em estado de emergência.

MILÍCIAS

A campanha no Ceará foi fortemente marcada pelo tema da segurança pública, mas também por cenas pitorescas.

No dia do primeiro turno, a PM realizou 59 detenções por suspeita de crimes eleitorais –sendo 48 supostamente praticados pela coligação de Camilo, e 11, pela de Eunício.

Um vereador da base de Cid foi detido em Sobral, reduto político dos irmãos Gomes. O governador foi à delegacia e acusou a polícia de ser chefiada por uma "milícia" que queria prejudicar seu candidato.

O governo também abriu processo para expulsar 18 militares que manifestaram apoio aos oposicionistas durante as eleições. Os militares classificaram o ato como "perseguição política".

Em razão do clima de instabilidade envolvendo a polícia no Estado, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) liberou o envio de 2.500 homens da Força Nacional para reforçar o patrulhamento em 16 cidades.

Por duas vezes, uma em cada turno, Cid pediu licença do cargo para reforçar a campanha de Camilo. O governador passou a dirigir um jipe pelas ruas da capital pedindo votos para o petista, além de participar de "adesivaços", carreatas e passeatas defendendo seu aliado.

Esta é a segunda eleição na história do Estado decidida no segundo turno. A primeira foi em 2002, quando Lúcio Alcântara, então no PSDB, derrotou José Airton (PT) por uma diferença de pouco mais de 3.000 votos.


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