Folha de S. Paulo


SNI via em Aécio um moderado de esquerda

Um jovem político mineiro que flerta com tendências de esquerda, mas não se confunde com os grupos armados que resistiram à ditadura e prefere trilhar a crítica moderada ao governo. Essa é a imagem que emerge de documentos do sistema de espionagem da ditadura sobre o presidenciável Aécio Neves (PSDB).

A Folha localizou 162 conjuntos de papéis no Arquivo Nacional em que ele é citado. Para o SNI (Serviço Nacional de Informações) e o Cisa (Centro de Informações da Aeronáutica), Aécio Neves era o "Aecinho" ou, na maior parte das vezes, o neto de Tancredo Neves (1910-1985).

Aécio quase sempre é citado em análises genéricas sobre votações na Câmara (foi eleito deputado pela 1ª vez em 1986), conjunturas do PMDB ou da política em Minas.

1984/Mauro Homem
Aécio Neves com o avô Tancredo Neves no Palácio das Mangabeiras, em Belo Horizonte, em 1984
Aécio Neves com o avô Tancredo Neves no Palácio das Mangabeiras, em Belo Horizonte, em 1984

Em 1984 o SNI registrou, sobre a inauguração do "Comitê Jovem Pró-Tancredo Neves", que a coordenação nacional dos comitês que ainda seriam inaugurados em outros Estados estava a cargo de "Aécio Neves da Cunha".

Editoria de Arte/Folhapress

Outro registro de 1984 sobre a "atuação de grupos no campo político contrários ao regime constituído", diz que houve um debate organizado pelo PMDB Jovem. Aécio compôs a mesa que conduziu os pronunciamentos, "nos quais predominaram críticas à revolução de 1964".

Essas movimentações antecederam o pleito indireto de 1985, no qual Tancredo foi eleito.

A relativa pouca atenção dada a Aécio tem, de um lado, relação com sua idade. Quando o golpe ocorreu, ele mal havia completado quatro anos. E em 1983, quando começou sua trajetória pública, como secretário do avô, a ditadura vivia seus estertores.

Outra possível razão é que Aécio não era visto como um elemento perigoso à ordem.

Num papel de 1985, os agentes dizem não haver registros sobre ele no campo ideológico. E mesmo quando ele participou do 12º Festival Mundial da Juventude, em Moscou, os agentes viram não uma aproximação com comunistas, mas um sinal de que o evento atingia universo ideológico "bem diversificado".

Como resume outro documento sobre o "perfil da constituinte", Aécio parecia ser, aos olhos do declinante regime, influenciado "pelo testamento liberal de Tancredo e pelas teses da esquerda moderada mineira".


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