Folha de S. Paulo


Adversários que trocavam elogios em MS agora acusam um ao outro

Eles são adversários na disputa pelo governo de Mato Grosso do Sul. Protagonistas de um embate entre PT e PSDB, acusam-se de mentiras, desespero, inexperiência e até corrupção.

Há poucos meses, porém, ambos se elogiavam, posavam lado a lado de mãos unidas ao alto e diziam construir "um projeto comum".

Sim, Delcídio Amaral (PT) e Reinaldo Azambuja (PSDB) tentaram formalizar uma improvável aliança entre partidos "arquirrivais". Até maio, os dois congressistas (Delcídio é senador, e Azambuja, deputado federal) lutavam por um acordo. O petista sairia como candidato ao governo, e o tucano, ao Senado.

Em comum, a ambição de retirar o PMDB do governo, comandado há oito anos por André Puccinelli, a maior força política do Estado.

Sergio Lima/Folhapress/Divulgação
Delcidio Amaral (esq.) e Reinaldo Azambuja, que disputam o segundo turno para o governo de MS
Delcidio Amaral (esq.) e Reinaldo Azambuja, que disputam o segundo turno para o governo de MS

"Chegou um ponto em que a gente ia aprovar a aliança a qualquer custo. Depois a direção nacional que interviesse", conta um petista que acompanhou o processo.

Delcídio dizia na época que a união era "natural", pois "representava a mudança".

O primeiro flerte foi em 2012, na eleição para a Prefeitura de Campo Grande. O maior colégio eleitoral do Estado estava sob o domínio do PMDB havia 20 anos.

Para enfraquecer o candidato peemedebista, PT e PSDB estimularam o maior número de candidaturas possível (foram sete). No segundo turno, se uniram em torno do mesmo nome, Alcides Bernal (PP) –que foi eleito, mas depois cassado pela Câmara.

Depois disso, o namoro ficou sério. Delcídio passou a ir a eventos organizados por Azambuja e pelo PSDB. Tratava o tucano como "futuro senador" e exaltava as qualidades do hoje adversário.

"Se Deus quiser, você será meu companheiro de chapa", dizia o petista. "Vamos trocar muitas figurinhas."

O tucano retribuía as expectativas. Passeou em feiras agropecuárias ao lado de Delcídio, elogiava o jeito "sem rixas partidárias" de o petista fazer política e posava para fotografias ao seu lado.

Ambos consultaram as direções nacionais sobre a aliança. Até Aécio, Dilma e Lula foram procurados.

Todos, porém, barraram o flerte de "Romeu e Julieta".

Rompidos, os dois ainda divulgaram nota conjunta em maio. Disseram que a união "não era possível no momento", mas que continuariam a "construir um projeto comum", pela "aliança que Mato Grosso do Sul espera".

A campanha mudou as coisas. Em junho, Azambuja se lançou candidato ao governo, ao ver espaço na desgastada e histórica briga entre PT e PMDB. Cresceu e entrou para o segundo turno a três pontos percentuais de Delcídio.

O petista abriu munição contra o ex-companheiro. Acusou-o de ser "um homem de duas caras", da elite, ambicioso e despreparado.

Azambuja, por sua vez, tenta ligar Delcídio às denúncias da Petrobras –o petista foi diretor da estatal. Afirma que ele nunca governou nada, que está desesperado e "quer ganhar no grito".

"Os ataques nos distanciaram muito. Acho que agora cada um caminha dentro do seu ambiente político", disse o tucano à Folha.

Para Delcídio, é seu papel "mostrar as contradições" do adversário. "Ele não é o que ele vendia", afirmou.

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NAS PESQUISAS

Considerando os votos válidos (descartando brancos, nulos e indecisos)

51% Reinaldo Azambuja (PSDB)

49% Delcídio Amaral (PT)

Fonte: Pesquisa Ibope que ouviu 812 eleitores entre a sexta-feira (17) e o domingo (19) em 32 municípios do Estado. A margem de erro é de três pontos percentuais. A pesquisa está registrada na Justiça Eleitoral sob os números MS-0072/2014 e BR-01135/2014


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