Folha de S. Paulo


Na comparação com FHC, Dilma parece levar vantagem

A tendência geral é supervalorizar as estratégias de propaganda na melhora dos índices de avaliação do governo, no crescente otimismo econômico e na recente vantagem conquistada pela presidente Dilma Rousseff (PT) na disputa pela reeleição.

O espaço privilegiado, em meios de comunicação de massa, de capilaridade expressiva é de fato um palanque inigualável, mas com potencial de autodestruição tão expressivo quanto.

Se descolada e distante da percepção do eleitorado, a mensagem não encontra aderência.

A desconstrução de Marina Silva pelos petistas no primeiro turno foi muito mais produto da inconsistência do discurso bipolar da ambientalista junto à população do que propriamente da eficiência de Dilma em explorá-la.

Estudo feito pelo Datafolha na ocasião mostrava o quanto Marina atraía o apoio de espectros políticos conflitantes. Ruído de comunicação parecido, porém de outra natureza, acontece agora com a campanha dos tucanos ao estimular a comparação com o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

A parcela da classe média que mais cresceu ao longo das gestões petistas –e que se mostrava dividida– pende mais, neste momento, para a reeleição da presidente.

Apesar da insatisfação com serviços públicos, explícitas nas manifestações que aconteceram do ano passado, chamados a comparar a administração atual com a dos tucanos, o balanço feito pelos entrevistados parece até aqui favorecer a petista.

Uma rápida observação das variáveis de expectativa que compõem o Índice Datafolha de Confiança na Economia ao longo do último ano de mandato de Fernando Henrique Cardoso ajuda a compreender os cenários da opinião pública com os quais o eleitor se depara.

A expectativa de aumento da inflação no decorrer de 2002 teve pico de 65% em julho daquele ano, mesma taxa alcançada durante o governo Dilma Rousseff em abril deste ano. A diminuição do poder de compra era esperada, no máximo, por 39% dos brasileiros em 2002 e por 38% em 2014.

Conclui-se portanto que, pelo menos em relação a esses dois itens, os sentimentos que prevaleceram na população em algum momento do processo eleitoral nas duas ocasiões são equivalentes.

A variável que faz a diferença é a percepção quanto ao desemprego.

O pico de pessimismo sobre o item bateu 63% há 12 anos e teve piso de 38% em dezembro de 2002, depois da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu 10 milhões de empregos na eleição daquele ano.

Agora, em 2014, o máximo de pessimismo sobre a questão chegou a 48% em junho e cai agora para 26%.

Para ilustrar o quadro, na última pesquisa nacional do Datafolha em 2012, 26% dos brasileiros procuravam emprego ou faziam bicos. Hoje, essa taxa caiu a 15%.

Além do conteúdo, a forma do debate também vem chamando a atenção dos eleitores. A agressividade dos dois candidatos é notada e reprovada pela maioria dos entrevistados, independentemente da intenção de voto.

Mas, entre os eleitores de Aécio Neves (PSDB), o tucano é mais arrolado como agressivo do que Dilma entre os seus.

Editoria de Arte/Folhapress

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