Folha de S. Paulo


Empréstimos de bancos públicos como método de aquecer economia opõe candidatos

Os três principais bancos públicos do país –Banco do Brasil, Caixa e BNDES– controlam metade do mercado de crédito brasileiro.

A marca, criticada por tucanos e exaltada por petistas, virou assunto nos embates entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB).

A campanha do PT afirma que Aécio, se eleito, esvaziará os bancos públicos. Usa como "prova" parte de uma entrevista concedida em 2013 por Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e futuro ministro da Fazenda de um eventual governo tucano.

Na entrevista, o economista critica o gigantismo dessas instituições públicas. Mas não defende que elas acabem.

Editoria de Arte/Folhapress

Aécio gravou vídeo para os funcionários dos bancos estatais em que afirma querer fortalecê-los. Mas em seu programa de governo classifica como "preocupante" e "excessivo" o crescimento dos empréstimos concedidos por estas instituições.

No governo Dilma, os empréstimos dos bancos públicos cresceram bem mais do que os oferecidos pelos bancos privados. Só até agosto, segundo dados do Banco Central, o crédito estatal cresceu 9,2%, e o privado, 2,6%.

A estratégia de turbinar os empréstimos das instituições do governo foi adotada para tentar restabelecer o crescimento da economia, que perdeu fôlego depois de 2010.

Dilma tentava repetir a receita bem-sucedida de Lula. Quando a crise global de 2008/2009 engoliu bancos nos EUA, no Brasil o efeito imediato foi uma súbita seca de financiamento. Como defesa, o governo elevou o crédito estatal, usando dinheiro público. O país saiu da crise, mas o protagonismo dos bancos estatais não diminuiu.

SUBSÍDIO

Empresas e produtores rurais encontram nesses bancos empréstimos com taxas de juros bem mais baixas do que as cobradas no mercado.

No BNDES, por exemplo, a taxa é de 5% ao ano. Os juros básicos da economia estão em 11%. A diferença –classificada por economistas como subsídio– é bancada por recursos públicos que saem do Tesouro Nacional.

Desde 2008, o BNDES recebeu cerca de R$ 410 bilhões do governo para emprestar a empresas. Caixa e Banco do Brasil foram financiados com aumento da dívida pública –que no governo Dilma Rousseff cresceu de 53,4% para o equivalente a 60,1% do PIB.

Críticos afirmam que esses recursos estão beneficiando principalmente grandes empresas, que poderiam tomar crédito no mercado.

O governo sustenta que os bancos privados não oferecem crédito para investimento de longo prazo.

Afora essa discussão, a ampliação do crédito estatal parece ter perdido o impacto. Famílias endividadas estão evitando tomar empréstimos, assim como as empresas, que perderam a confiança e paralisaram investimentos.

Com o menor crescimento da economia, a arrecadação do governo recuou e os recursos disponíveis para repassar aos bancos ficaram escassos.

No fim do ano passado, o ministro Guido Mantega (Fazenda) anunciou que os repasses encolheriam.

A verba para o BNDES diminuiu de R$ 41 bilhões, em 2013, para R$ 30 bilhões, neste ano. Caixa e BB não receberam recursos. Pode ser sinal de que a estratégia que fez os bancos crescerem, de todo jeito, está no fim.


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