Folha de S. Paulo


Chacrinha 'assina' manifesto de apoio à economia de Dilma

Economistas simpatizantes da política econômica do governo Dilma Rousseff (PT) assinaram um manifesto que, por volta das 18h desta segunda-feira (20), contava com 526 nomes. Um deles, porém, era um trote.

Na lista havia o nome de José Abelardo Barbosa de Medeiros, mais conhecido como Chacrinha, morto em 1988. Ele aparecia como professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana. No Instituto de Economia e Política da universidade, que fica em Foz do Iguaçu, informaram à reportagem que não há professor com este nome.

Chacrinha saiu do manifesto de apoio à reeleição de Dilma depois que o economista Márcio Pochmann, um dos organizadores do manifesto, recebeu o telefonema da Folha.

"Tem hacker, tem gente que gosta de fazer chacota. Isso não invalida o movimento, que tem mais de 500 nomes", diz ele.

Pochmann afirma que o grupo produziu uma nota informando que não se responsabiliza pelas informações dadas a quem colocou seu nome na lista. Para aderir ao manifesto, que se chama "Economistas com Dilma", é preciso enviar um email para os organizadores.

"Não fico pedindo requisitos para incluir o nome de uma pessoa que aderiu de livre e espontânea vontade", afirmou Pochmann.

BAIXA

Nesta segunda-feira (20), a lista sofreu outra baixa, dessa vez de verdade.

O economista José Clemente Ganz, diretor técnico do Dieese (Departamento de Estudos Intersindicais), pediu para ter seu nome suprimido do manifesto. A informação foi noticiada pela revista "Época", em seu site.

Com a repercussão, o Dieese divulgou uma nota informando que "não apoia institucionalmente nenhum candidato no processo eleitoral em curso e não se manifestou a favor ou contra nenhum deles".

O Dieese faz estudos econômicos que auxiliam os sindicatos. Como se sabe, o movimento sindical está dividido: a CUT apóia Dilma e a Força Sindical, Aécio Neves (PSDB).

Pochmann disse à Folha que o nome de Clemente nunca esteve entre os signatários da lista original.

Na tarde desta segunda-feira (20), porém, o site do PT mantinha no ar uma reportagem, datada da última quinta-feira (16), sobre o manifesto. A reportagem reproduzia a lista de apoiadores e o nome de Clemente estava lá.

Informado pela reportagem, Pochmann afirmou que a lista foi reproduzida por vários sites e que o nome de Clemente pode ter sido incluído por algum deles.

"Não tenho controle sobre isso", afirmou. "Que interesse eu teria de colocar na lista pessoas que não apoiam as ideias expostas no manifesto?", questionou.

TRANSFORMAÇÃO

No manifesto, os signatários afirmam que "o Brasil está vivendo uma profunda transformação social que interrompeu o ciclo histórico da desigualdade no país".

"Na base dessa transformação está o modelo de desenvolvimento econômico com inclusão social iniciado no governo do presidente Lula e que prossegue no governo da presidenta Dilma Rousseff", afirma.

Na lista de apoiadores, há integrantes do governo, como os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Aloizio Mercadante (Casa Civil).

E também nomes de ex-integrantes do governo PT, como os de Jorge Mattoso (ex-presidente da Caixa) e de Nelson Barbosa (ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda).

Economistas como o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira e Luiz Gonzaga Belluzzo também assinaram o manifesto. Eles são referência na escola heterodoxa brasileira –que faz críticas ao livre mercado e prega uma maior intervenção do governo na economia.

"Nós apoiamos a Dilma porque suas propostas são mais compatíveis com os valores que a gente tem", afirmou Belluzzo, um dos conselheiros da presidente Dilma na área econômica.

Belluzzo criticou manifesto, divulgado há cerca de uma semana, de economistas contrários à política econômica do governo Dilma.

O documento, endossado por 164 professores universitários de economia, critica o discurso oficial de que o atual desempenho negativo do país se deve à crise externa.

"Entre as 38 economias com estatísticas de crescimento do PIB disponíveis no sítio da OCDE, apenas Brasil, Argentina, Islândia e Itália encontram-se em recessão", afirma o manifesto.

O texto, contudo, não declara apoio a Aécio Neves, embora haja apoiadores do candidato entre os signatários.

Para Belluzzo, o grupo "embasou seus argumentos sobre uma aura pseudo-científica".

"Economia não é uma ciência, como a física", disse. "Uma coisa é apoiar um candidato, outra é fazer uma análise e dizer que a crise já acabou. O voo rasante dos EUA e o risco de deflação na Europa estão aí para provar que a crise não acabou".


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