Folha de S. Paulo


No Senado, Aécio priorizou candidatura

Em uma quarta-feira de abril de 2011, quando subiu à tribuna para fazer o aguardado discurso que marcaria o início de sua passagem pelo Senado, Aécio Neves (PSDB) foi saudado como "craque da política" e o "melhor quadro da oposição neste país".

As palavras, ditas por dois senadores do arquirrival PT —Anibal Diniz (AC) e Humberto Costa (PE)— se somaram a outros inúmeros elogios nas 4 horas e 42 minutos em que tucano paralisou o plenário do Senado naquele dia, tendo sido aparteado por 37 dos 80 colegas.

Recém-saído de uma bem avaliada gestão no governo de Minas Gerais (2003-2010) e na ocasião favorito da oposição para disputar o Planalto três anos depois, Aécio listou projetos que pretendia defender dali em diante.

Mas o ponto principal de seu longo discurso foi outro, a crítica pormenorizada aos oito anos e três meses da gestão petista no Planalto.

Apesar dos elogios, a reação do batalhão de governistas a postos para defender o incipiente governo Dilma Rousseff sinalizava que a passagem de Aécio pelo Senado tenderia a se caracterizar mais pela perspectiva da disputa de 2014 do que por questões legislativas.

Nos três anos seguintes, o tucano teve em poucos momentos papel de protagonismo no dia a dia clássico da oposição legislativa.

Nunca assumiu a função de líder da bancada, deixou por várias vezes para aliados como Álvaro Dias (PSDB-PR) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) a tarefa de confrontar os governistas ou espezinhar o Planalto.

Papel diferente do que desempenhava nos bastidores de sua legenda para pavimentar sua candidatura ao Planalto, o que se consolidou após ele assumir a presidência do PSDB em maio de 2013 -e, meses depois, conseguir sepultar de vez as pretensões do ex-governador José Serra de disputar pela terceira vez a corrida presidencial.

ARTICULADOR

Na avaliação de aliados e adversários ouvidos pela Folha, Aécio se concentrou nas costuras políticas.

"O perfil dele é mais do articulador, que busca o consenso. É uma atuação de bastidor", afirmou Álvaro Dias. "Ele não faz oposição raivosa, age politicamente", completou o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE).

Para o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), conhecido pelos críticos discursos contra governos do PT, Aécio tem o estilo de não partir para o embate publicamente, por isso manteve essa postura no mandato. "É uma questão de temperamento e formação", disse.

Os números da produção legislativa de Aécio também são modestos, mas é preciso ressalvar que integrantes da oposição —ainda mais um possível desafiante ao Planalto— dificilmente conseguem emplacar suas propostas.

Aécio apresentou 20 projetos —nenhum deles aprovado de forma definitiva— e relatou apenas 10 dos 45 projetos que foram enviados ao seu gabinete. Os demais, devolveu, não se posicionou ou foram retirados de pauta.

Como destaque, houve o projeto que altera as regras das medidas provisórias, restringindo a margem de manobra do Planalto. Aprovado no Senado, foi barrado na Câmara pela base governista.

"Tudo que tem como autor a oposição, esse governo procrastina, boicota", diz o senador José Agripino Maia (DEM-RN), coordenador da campanha de Aécio.

GASTOS

Dos 20 projetos que apresentou, 13 ou representavam mais gastos ou menos receita para o governo federal. Alguns na linha de maior distribuição da fatia dos tributos para Estados e municípios, uma das bandeiras de Aécio.

Como o que cria um dinheiro extra para os Estados em dezembro, ampliando em mais de R$ 3 bilhões a fatia que eles recebem da União a título de repartição da arrecadação do Imposto de Renda e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).

Em outro, o tucano pede adiamento por seis meses do Bolsa Família a pessoas que não se encaixem mais nos critérios de beneficiários.

A assessoria da campanha de Aécio afirmou que o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) mostra que o senador sempre esteve entre os mais influentes do Congresso, tendo apresentado relevantes projetos.

"Infelizmente, a base governista da candidata do PT impediu a votação das propostas, mesmo as que iam ao encontro de discursos e promessas de campanha."

A assessoria nega ainda que os projetos do senador comprometam as finanças públicas. "Não é possível mensurar a qualidade do trabalho legislativo apenas por estatísticas numéricas, ignorando os debates e o mérito e a qualidade das propostas."

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ATUAÇÃO NO SENADO

20
É o número de projetos apresentados por Aécio no Senado, dos quais dois são emendas constitucionais

13
Projetos implicavam em aumento de custos ou perda de receita

Exemplo
Propôs projeto de lei que exige do governo o repasse aos Estados de pelo menos 70% dos recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública e do Fundo Penitenciário Nacional


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