Folha de S. Paulo


'Fui levada a esse rumo', afirma Dilma sobre ataques na campanha

A presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, responsabilizou nesta sexta-feira (17) o adversário Aécio Neves (PSDB) pelo aumento dos ataques pessoais na reta final da campanha eleitoral e disse que foi "levada" a adotar um tom agressivo.

No debate entre os presidenciáveis promovido pelo SBT, portal UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha, e rádio Jovem Pan nesta quinta-feira (16), a petista insinuou que o oponente foi apanhado dirigindo "sob álcool e droga" e que beneficiou parentes no governo de Minas Gerais.

O tucano, por sua vez, afirmou que um irmão de Dilma foi funcionário fantasma da Prefeitura de Belo Horizonte quando a capital era administrada pelo PT.

Em entrevista após ato político em Florianópolis, a presidente foi questionada sobre a agressividade nos debates e a decisão da Justiça Eleitoral que suspendeu uma propaganda do PT que acusava Aécio de perseguir jornalistas quando governou Minas.

Questionada se pretendia mudar o rumo da campanha, Dilma respondeu: "Eu não estou tomando este rumo, fui levada a esse rumo. Acredito que os debates seriam melhores se fossem propositivos".

"Acontece que não é da mesma forma que o candidato adversário tem se comportado", disse a petista, após citar programas federais como o Pronatec e Minha Casa Minha Vida como propostas "que servem a qualquer debate". "Agora, eu não posso me furtar ao debate que vier, porque sou candidata. Não posso usar de nenhum artifício e fugir das discussões", concluiu.

MUDANÇA NA CONSTITUIÇÃO

Na entrevista e em discurso no ato político, Dilma disse ser favorável a mudar a Constituição para que o governo federal possa ampliar sua atuação na área da segurança pública, que segundo a legislação, é de responsabilidade dos Estados.

Dilma vem sendo criticada nos debates por Aécio, que afirma que a União investe pouco no setor.

"Considero que é necessário rever a forma pela qual as atribuições são articuladas. Por isso, eu inclusive estou propondo uma alteração na Constituição no caso da segurança pública", disse a presidente, sem citar o teor das modificações que pretende aprovar e de que forma serão feitas.

Ela afirmou que a articulação entre as forças de segurança na Copa do Mundo foi "um exemplo de conduta adequada" e prometeu levar centros de comando e controle semelhantes aos utilizados durante o Mundial às 27 capitais.

"Não podemos admitir que o crime organizado, às vésperas da eleição, faça ameaças veladas. Em alguns Estados isso ocorreu. Nós não podemos aceitar que os governos estaduais fiquem sozinhos enfrentando um organismo que não é local, é nacional."

Santa Catarina, onde Dilma esteve, sofreu uma onda de violência entre o final de setembro e o início deste mês, com mais de cem ataques a ônibus, escolas e alvos ligados à segurança pública, como casas de policiais.

AFAGOS AO GOVERNADOR

Dilma visitou Santa Catarina visando aumentar sua votação na região Sul, onde as pesquisas apontam vantagem de Aécio na corrida eleitoral. O tucano venceu as eleições no Estado no primeiro turno, com 52,8% dos votos válidos. Dilma teve 30,7%. À tarde, a petista irá ao Paraná, para uma caminhada em Curitiba.

A presidente fez diversos afagos ao governador Raimundo Colombo (PSD), reeleito no primeiro turno com 51,3% dos votos. Colombo fez campanha para José Serra, então candidato do PSDB, nas eleições de 2010, mas neste ano decidiu apoiar a petista.

"Há quatro anos eu não lhe apoiei, mas hoje estou aqui com a maior convicção", disse Colombo, que citou várias vezes ter "gratidão" a Dilma por parceiras em obras de enfrentamento às enchentes, pelo apoio à exportação para frigoríficos sediados em Santa Catarina e pela duplicação da BR-101, ainda em andamento.

Dilma devolveu os elogios. "Entendo que vocês tenham eleito Colombo no primeiro turno, foi mais do que merecido. Homens públicos dessa envergadura sempre devem ser valorizados", disse a presidente.

Ao lado de Dilma e Colombo, no palco montado em um centro de convenções de Florianópolis, estava Cláudio Vignatti, presidente do PT-SC e candidato derrotado ao governo.

Parte dos petistas na plateia do ato vaiou três vezes o ex-prefeito de Florianópolis Dário Berger (PMDB), eleito senador na chapa de Colombo.

Ele arrancou algumas palmas apenas quando citou a inclusão, pelo ex-presidente Lula e por Dilma, então ministra da Casa Civil, de um projeto de reurbanização de favelas no centro da capital entre as obras do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), em seu primeiro mandato à frente da cidade (2005-2008).

Antes do comício, que reuniu militantes do PT e de partidos aliados como PMDB, PDT e PC do B, Dilma se reuniu com cerca de 160 prefeitos do Estado para pedir apoio na reta final da campanha.


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