Folha de S. Paulo


'Curral dos Barbalho' vira vitrine e vidraça de campanha no Pará

Segunda cidade mais populosa do Pará, com quase 500 mil habitantes, Ananindeua é vitrine e, ao mesmo tempo, vidraça do candidato ao governo Helder Barbalho (PMDB).

Filho do ex-senador Jader Barbalho, Helder foi eleito prefeito da cidade aos 25 anos e enfileirou dois mandatos na administração do município, entre 2005 e 2012. Ao se lançar candidato ao governo do Estado neste ano, ostentou sua experiência à frente de Ananindeua, listando obras e melhorias, sobretudo na educação.

Embora tenha terminado o primeiro turno à frente do governador tucano e candidato à reeleição Simão Jatene (49% contra 48%), Helder perdeu em Belém e na região metropolitana da capital, que inclui Ananindeua, cidade onde alcançou 39% dos votos válidos, contra 57% do atual governador ""uma diferença de 36 mil votos.

Na propaganda de TV, Jatene tem feito uma campanha forte de "desconstrução" da gestão do peemedebista aos moldes da usada por Dilma Rousseff (PT) contra o também tucano Aécio Neves em Minas Gerais. Até o bordão é parecido: "Quem conhece não vota".

Para recuperar forças em seu território, Barbalho tem intensificado ações em Ananindeua. Nesta quarta-feira (15) ele participará de um comício, às 19h, ao lado do ex-presidente Lula (PT) em uma das avenidas mais movimentadas da cidade.

No primeiro turno, Lula subiu no palanque para pedir votos para Helder e Dilma na capital. Na ocasião, ele disse que a aliança com Jader Barbalho era para recuperar a "grandeza do Pará".

Desde o início da manhã desta quarta-feira (15) no centro da cidade, a equipe do ex-prefeito distribuiu santinhos, pendurou bandeiras no canteiro central e desfilou com carros de som com o jingle de Helder –tocada em ritmo de tecnobrega, estilo musical popular no Estado.

Entre os ananindeuenses ouvidos pela Folha, o filho de Jader Barbalho é elogiado por ações na educação e saúde, mas criticado pelas obras deixadas pela metade no fim da sua segunda gestão, entre as quais o estádio municipal, o mercado central, conjuntos habitacionais e um teatro.

"Os primeiros quatro anos dele foram bons, mas depois ele se comprometeu com várias obras e largou pela metade. A população se ressente disso", diz o açougueiro Flúvio Amaral, 49.

Jatene cita ainda obras de saneamento e o alto índice na violência para atacar seu adversário. Segundo ranking dos cem maiores municípios do país feito pelo Instituto Trata Brasil, em 2012, Ananindeua é a pior cidade em cobertura de rede de água, e a pior na rede de esgoto: 0% coletado.

Helder culpa o Estado pelo alto índice de violência na cidade. Segundo o Mapa da Violência, com dados de 2012, Ananindeua ocupa a sexta posição entre as cidades mais violentas do país, com 100 homicídios a cada 100 mil habitantes. No Pará este número corresponde a 45,9 assassinatos a cada 100 mil pessoas (sendo 80,2 na região metropolitana de Belém e 33,3 no interior do Estado). No Brasil, o índice é de 26,2 pessoas a cada grupo de 100 mil habitantes.

Entre as benfeitorias, o ex-prefeito é elogiado pela construção de duas UPAS (Unidades de Pronto Atendimento) e pelo programa Aluno Nota 10, que distribuía eletrodomésticos e dinheiro para os alunos que melhor se destacassem nas escolas municipais.

"Minha filha mesmo foi beneficiada pelo programa. Ela ganhou um DVD da escola por tirar boas notas", diz o livreiro Edson de Lima, 51, que ainda assim declara voto em Jatene por não querer a volta dos Barbalhos ao poder. "Foi tão difícil tirar que não se pode entregar de mão beijada agora", diz ele.

Declarado ficha suja pela Justiça eleitoral, Jader Barbalho enfrenta resistência de parte da população paraense, mas é louvado no bairro de Paar, uma das maiores periferias de Ananindeua. Quando foi governador (1983-1987 e 1991-1994), Jader distribuiu posses de terras no bairro.

"Sou grata eternamente por esse pedaço de terra que ele reconheceu como meu para eu construir minha casa. Voto nele e no filho sempre que forem candidatos", diz a dona de casa Adelaide Sousa, 62.


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