A votação "insignificante" da presidente Dilma Rousseff em São Paulo e a redução da bancada petista na Câmara dos Deputados mostram que o ex-presidente Lula precisa liderar um movimento para "reestruturar" o partido.
A avaliação é de Tarso Genro (PT), governador do Rio Grande do Sul e candidato à reeleição, para quem resultados no primeiro turno das eleições expõem ao PT "sintomas bastante alarmantes".
"Se o Lula não ficar na frente do movimento de renovação profunda, o PT pode se transformar numa espécie de PMDB pós-moderno", disse à Folha o governador.
Tarso cita o PMDB como um exemplo de partido que gradualmente tem perdido a sua identidade nacional.
Para o gaúcho, que foi um dos principais ministros da gestão Lula, o ex-presidente deve ser "protagonista" devido à força política e respeito dele junto aos dirigentes.
Sérgio Lima 10.set.2013/Folhapress | ||
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, em entrevista ao programa 'Poder-Política', da Folha |
Se ele não se interessar pelo tema, afirma Tarso, a mudança "não ocorre".
Ministro da Justiça e da Educação na gestão Lula, o governador cita como exemplos de reorganização a atualização permanente do programa e da carta de princípios da sigla. "O partido não se renovou com a profundidade mínima que deveria."
O gaúcho integra a corrente petista Mensagem ao Partido, derrotada na eleição interna em 2013. Lula pertence ao grupo majoritário Construindo Um Novo Brasil.
Em 2005, em meio à crise do mensalão, Tarso assumiu temporariamente a presidência nacional do PT e pregou a "refundação" do partido.
Hoje, diz ele, a ala majoritária faz mais concessões às correntes da sigla para garantir "estabilidade" interna.
Tarso, no entanto, afirma que o fim da bancada do PT de Pernambuco, onde o partido não elegeu congressista, e a derrota de Dilma para Aécio Neves (PSDB) em São Paulo demonstram o tamanho do desafio a ser encarado.
A bancada do PT na Câmara ainda será a maior em 2014, mas caiu de 88 para 70 cadeiras –redução de 20%.
"Tem que haver problemas muito graves no partido [em São Paulo] para fazer uma votação bastante baixa, diria até insignificante, para a presidenta, comparativamente com o que foram votações do Lula [em 2002 e 2006]."
Questionado sobre os motivos do desempenho do PT paulista, o governador diz não saber ao certo por não ter seguido a campanha de perto. Mas afirma que o petista Alexandre Padilha foi "um bom candidato" ao governo.
Em São Paulo, Dilma teve 26% dos votos, enquanto Aécio obteve 44%. A derrota foi mais significativa, diz Tarso, por ser "o Estado do Lula".
"O mais desenvolvido do país, com classe trabalhadora muito forte e setores médios muito importantes", completa Tarso.
"Vamos propor [após a eleição] ao partido um profundo processo de reflexão, de reorganização estatutária, principalmente nas questões éticas", afirma, em referência a "procedimentos", "quadros" e "dirigentes".
Tarso diz apoiar uma volta de Lula na eleição de 2018, mas avalia que a candidatura depende da disposição do ex-presidente. Para o governador, seria a figura "ideal", mas o partido tem condições de construir outros nomes.
"Ele terá que examinar melhor, inclusive o nexo com a vida pessoal dele, futuro."
PETROBRAS
O governador disputa a eleição no RS contra José Ivo Sartori (PMDB), que ficou oito pontos percentuais à frente no primeiro turno e tem apoio dos principais partidos derrotados. Concorre ao cargo pela quarta vez e vem fazendo uma campanha no Estado colada à de Dilma.
O petista costuma mostrar na TV investimentos federais como se fossem de responsabilidade de sua gestão.
Nos últimos dias, o governador aderiu ao discurso da presidente que classifica a divulgação de detalhes da investigação sobre a Petrobras como tentativa de "golpe".
"Os ataques virulentos à Petrobras, como se fosse um ninho de corrupção, são uma fraude informativa. Tem corrupção na Petrobras que é histórica, que vem de décadas e que está sendo na verdade combatida."