Folha de S. Paulo


Entre militantes, Dilma ataca Aécio e acusa PSDB de aparelhar a PF

Em ato político organizado pelo PT e por movimentos sociais, a presidente Dilma Rousseff fez nesta segunda-feira (13) ataques ao seu adversário no segundo turno das eleições, Aécio Neves (PSDB), e defendeu a reforma política como único instrumento capaz de combater a corrupção no Brasil.

"Não haverá [outra forma], por mais que a gente tenha mudado as práticas, porque não aparelhamos a Polícia Federal, não colocamos na direção da Polícia Federal, como os governos tucanos fizeram, filiados do partido ou dos nossos partidos. Eles colocaram filiados do PSDB para dirigir a Polícia Federal", atacou.

A candidata disse que seu governo priorizou a área social, enquanto as gestões do PSDB promoveram o desemprego e a exclusão dos pobres no país. "Ao contrário deles, nós empregamos. Eles desempregam. Nós não aceitamos que o salário mínimo seja razão de inflação. Nunca aceitamos isso, daí o salário cresceu 71% acima da inflação. Hoje é bem diferente o salário mínimo do que era na época deles."

Dilma disse que o PSDB "odeia" duas palavras adotadas em seu governo: gratuito e subsídio, em referência ao ensino técnico superior gratuito oferecido pelas gestões petistas e aos subsídios para a construção de casas populares no programa Minhas Casa, Minha Vida.

Segundo a presidente, o PSDB proibiu o investimento do governo federal em escolas técnicas, ao contrário do que ocorreu nos governos Lula e na sua gestão.

"Tem um valor ético, político, social, que é oportunidade igual para todos. Não pode ter conversa nisso. O Minha Casa, Minha Vida, é exemplo de outra palavra que eles odeiam: subsídio", disse.

Dilma também acusou os tucanos de trabalharem pelo fim do Mercosul e dos Brics, bloco que reúne o Brasil, Índia, China, Russia e África do Sul. Ao comemorar a reeleição do presidente da Bolivia, Evo Morales, em primeiro turno, a candidata afirmou que o dirigente do país vizinho é "é parceiro" do Brasil. "A política externa proposta é que o Mercosul não é mais importante, a gente volta as costas para a América Latina."

À vontade entre os militantes, que entoaram gritos pró-Dilma, a candidata distribuiu sorrisos, pegou bilhetes jogados no palco e fez o gesto de colocar na cabeça um chapéu de cangaceiro lançado pela plateia. Apesar de reclamar da voz fraca, a candidata discursou por quase meia-hora.

REFORMA POLÍTICA

O objetivo do ato foi entregar à candidata cerca de 8 milhões de assinaturas coletadas por movimentos sociais em favor da realização de plebiscito para a reforma política. Além da convocação de Assembleia Constituinte para o Congresso discutir pontos de mudanças no sistema político do país, Dilma defendeu a realização de plebiscito para questionar a população sobre pontos específicos da reforma.

"Eu diria de forma radical: eu não acredito que a gente consiga aprovar as propostas mais importantes, como é o caso do fim do financiamento empresarial de campanha, sem que isso seja votado num plebiscito. Não basta convocar Assembleia Constituinte, tem que votar em plebiscito. Se não votar, não tem força suficiente para fazer."

A presidente defendeu dois pontos específicos da reforma política: a paridade entre candidatos homens e mulheres nas eleições proporcionais (o mesmo número de candidatos de cada sexo) e o fim das coligações partidárias nas eleições proporcionais -para o Congresso e as Câmaras Legislativas.

Segundo a presidente, o Congresso não se "auto-reforma" e os congressistas não mudam o sistema político enquanto têm mandatos, por isso a necessidade da consulta popular.

A presidente admitiu que não conseguiu realizar o plebiscito, nem a Assembleia Constituinte, depois das manifestações de junho do ano passado porque não teve apoio de partidos aliados do governo no Congresso.

MÍDIA

Representantes de movimentos sociais e da CUT (Central Única dos Trabalhadores) aproveitaram o ato político para defender o controle social da mídia, uma das bandeiras do PT. O presidente da CUT, Wagner Freitas, disse que a grande imprensa "escondeu" a coleta de assinaturas do plebiscito, o que reforça a necessidade de medidas para controlar a mídia.

"Não é possível que você não tenha um controle democrático da mídia. O que acontece no Brasil é que a mídia é um partido político contra os interesses dos trabalhadores. Não podemos aceitar a desinformação", atacou.

A presidente do Movimento Consulta Popular, Paola Estrada, também fez ataques à atuação da imprensa. "Contamos com a colaboração e apoio dos partidos, dos candidatos, dos que foram eleitos e estão do nosso lado, por um plebiscito oficial. Para que, desta vez, tenhamos espaço dentro da mídia, que silenciou."

Presidente do MST (Movimento dos Sem-Terra), João Pedro Stédile mirou as críticas em Aécio e no PSDB ao acusar os tucanos de darem "marcha ré" no Brasil. "O povo não quer dar marcha ré e voltar para o neoliberalismo do seu Aécio, assim como o povo não quis o chove não molha da Marina. O povo quer mudanças pra frente."


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