Folha de S. Paulo


PT foi o partido mais votado nas prisões de São Paulo

O PT foi o partido mais votado e o PSDB o que teve menos votos nas 75 urnas instaladas dentro de unidades prisionais e de internação do Estado de São Paulo no último domingo (5).

A opção da população carcerária vai na contramão do resultado das eleições no Estado, que reelegeu em primeiro turno o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e deu mais votos ao candidato tucano à Presidência, Aécio Neves.

A análise foi feita entre os três principais candidatos que disputaram as eleições no Estado e para a Presidência da República.

O governo do Estado é responsável pela administração do sistema penitenciário de São Paulo –com população carcerária que chega a 200 mil presos– e detém o comando das polícias Militar e Civil.

Para especialistas, esses são os principais motivos para o resultado apresentado nas urnas.

Segundo dados disponibilizados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o petista Alexandre Padilha, que concorreu ao governo de São Paulo, somou 39,9%, e a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, 41%.

Já Alckmin obteve 22,6% dos votos válidos e Aécio, 15,6%.

A candidata pelo PSB, Marina Silva, conseguiu se situar próxima ao PT: teve 38,1%.

O candidato a governador pelo PMDB, Paulo Skaf, por sua vez, chegou a 34,3%.

Um especialista ouvido pela Folha avalia que a terceira colocação do PSDB é reflexo dos problemas enfrentados no sistema prisional em São Paulo e também porque os presos associam a imagem de Alckmin à polícia.

"O governador é o chefe da polícia e responsável pelos presídios", disse Guaracy Mingardi, cientista político e doutor em segurança pública pela USP (Universidade de São Paulo). "Essa rejeição aconteceria com qualquer um que fosse governador."

Para a socióloga da UFABC (Universidade Federal do ABC) Camila Nunes Dias, que teve como objeto de estudo o PCC (Primeiro Comando da Capital), as condições das penitenciárias hoje são desumanas e colaboram para esse resultado das urnas.

"Os presídios são estaduais e a situação de encarceramento é muito ruim. Os presos não têm acesso a médico e a comida é de péssima qualidade."

Ela afirmou ainda que, de modo geral, a população carcerária faz parte da classe baixa e, por isso, existe a identificação com o PT. "Pertencem a famílias oriundas da periferia de projetos sociais. O PT, historicamente, está associado a esses programas", disse.

As urnas foram instaladas em 75 unidades prisionais e de internação (que recebem menores), em que houve interesse de um número mínimo de presos em participar do processo eleitoral. O mapeamento é feito pelos cartórios eleitorais com apoio da SAP (Secretaria de Estado da Administração Penitenciária).

Estão incluídas unidades da Fundação Casa, centros de detenção provisória, unidades de ressocialização e penitenciárias masculinas e femininas da capital e de 40 cidades do interior.

O direito ao voto é dado somente aos presos ou internos (entre 16 a 18 anos) que ainda aguardam julgamento. Essa inclusão começou em 2010.

Ao todo, 1.965 votaram, o que representa 33,7% dos que estavam aptos a votar, segundo dados do TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral).


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