Folha de S. Paulo


Costa diz que empreiteiras tinham medo de retaliação em outras obras do governo

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse, no depoimento que prestou à Justiça Federal do Paraná, que as empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras pagavam propina por receio de sofrer retaliação em concorrências do governo, como em ministérios e secretarias.

"Essas empresas tinham interesses em outros ministérios, capitaneados por partidos. Como eu falei, essas empresas são as mesmas que participam de várias outras obras a nível de Brasil (sic), quer seja em ferrovias, rodovias, aeroportos, portos, usinas hidrelétricas etc. etc. Saneamento básico, Minha Casa, Minha vida", disse ele.

"Se você cria problema de um lado, pode se criar um problema do outro."

Costa disse acreditar que várias obras no Brasil, como hidrelétricas no Norte do País e a usina de Angra 3, tenham sido alvo da cartelização das empreiteiras.

Segundo ele, em todo o tempo em que esteve no comando da Diretoria de Abastecimento, nenhuma empreiteira jamais deixou de pagar a propina. "Houve alguns atrasos, mas deixar de pagar, nunca deixaram", disse.

"Então, se ela deixa de contribuir com determinado partido naquele momento, isso ia refletir em outras obras a nível de governo (sic), porque os partidos não iam olhar isso com muito bons olhos", afirmou. "Então esse seria um interesse mútuo, dos partidos, dos políticos e das empresas, porque não visava só à Petrobras, visava hidrovias, ferrovias, rodovias, hidrelétricas etc."

Costa disse que tentou acabar com o cartel das empreiteiras, mas que não conseguiu devido ao pequeno número de construtoras com capacidade para realizar as obras de grande porte contratadas pela Petrobras. "Eu tentei, mas me disseram que eu ia quebrar a cara."

Ele contou que a Petrobras chegou a contratar algumas construtoras menores, mas que muitas não deram conta das obras e quebraram.

Costa afirmou que, durante o período em que ocupou o cargo de diretor, sabia que em todas as demais diretorias da Petrobras havia esquemas políticos. Ele disse que isso é uma mácula na Petrobras. "Esse envolvimento político que tinha, depois que eu saí não posso mais falar, em todas as diretorias da Petrobras, é uma mácula dentro da companhia."

Costa disse que de seus 35 anos de Petrobras, 27 ele trabalhou em cargos técnicos e que sua ascensão nesse período foi por mérito. Ele afirmou que decidiu fazer a delação premiada para ajudar a melhorar o Brasil.

"Eu queria dizer uma coisa: eu trabalhei na companhia 35 anos. 27 anos do meu trabalho foram trabalhos técnicos e gerenciais, e eu não tive nenhuma mácula nesses 27 anos. Se houve erro, foi a partir da minha entrada na diretoria por envolvimento com grupos políticos, principalmente. Usando a oração de São Francisco, 'que é dando que se recebe'. Eles usam muito isso", disse.

"Todo esse processo que estamos discutindo aqui é um processo que vai ajudar a melhorar esse país. É um processo complicado, difícil e longo, mas, no momento em que eu decidi fazer a delação premiada, foi com o objetivo que a gente tenha no futuro um Brasil melhor para todos nós [...]. Espero que isso seja superado [corrupção], que o Brasil consiga superar com essa ajuda que eu estou dando e que tantos outros estão dando", afirmou.


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