Folha de S. Paulo


Leia e ouça trechos do depoimento de Paulo Roberto Costa à Justiça

Em depoimento prestado à Justiça Federal nesta quarta-feira (8), o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa explica detalhes do funcionamento do esquema de corrupção na Petrobras.

Depoimento - parte 1

Áudio 1

Depoimento - parte 2

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Depoimento - parte 3

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LEIA TRECHOS A SEGUIR

*

JUIZ SERGIO MORO - Acusado. Tem direito a permanecer em silêncio. No entanto, como nos autos celebrou acordo de delação com MPF, o senhor fazendo esse acordo abre mão do direito ao silêncio.
PAULO ROBERTO COSTA - Correto

Nós não representávamos o PR mas já houve anuência da advogada, então temos que referendar o que foi prometido.

Ele é trazido a juízo. Para receber os benefícios recebidos no acordo tem que necessariamente cumpri-lo e o que interessa à Justiça é que diga apenas a verdade. Não interessa se é boa para o senhor nem para a acusação. Se o senhor imputar falsamente crime a alguém, ao senhor será imputada nova ação. Deverá apenas dizer a verdade.

Sr. Paulo, pode começar revelando sua formação?
Sou engenheiro mecânico. Entrei na Petrobras em 2 de fevereiro 1977.

Pode descrever a carreira?
Ingressei por concurso público, no Paraná, onde me formei e após a formatura entrei na Petrobras para fazer um curso especialização de 4 meses: parte maior no Rio de Janeiro e Bahia, Espirito Santo. Permaneci em Macaé por 16 anos. Cheguei como engenheiro simples e saí em 1995 como superintendente-geral da produção da bacia de Campos. Foi um crescimento de chefe de divisão, de apoio. Em 2005, fui designado gerente da área de exploração e produção na bacia de Santos e sede em Pelotas. Voltei para um ano e meio e me indicaram para chefiar logística, exploração e produção. Depois passei mais seis anos na área de gás natural até que, em maio de 2004, aprovou meu nome para ser diretor da área de abastecimento. Permaneci de maio de 2004 a abril de 2012. Foram 8 anos. Em abril me aposentei e criei, em agosto de 2012, uma consultoria na área de gás e infraestrutura e atividades não afins à Petrobras.

Uma referência que o senhor teria assumido a diretoria por conta de uma indicação do sr. Janene. O senhor pode me dizer
Perfeito. Está correta essa colocação. A Petrobras desde que me conheço como Petrobras as diretorias e a presidência foram sempre por indicação política. Ninguém chega a general se não for indicado nas Forças Armadas. Então, as diretorias da Petrobras nos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC, quer seja nos governos do presidente Lula foram sempre por indicação política. E eu fui indicado pelo PP para essa diretoria.

Especificamente pelo Janene?
Pelo partido. Ele na época era o líder. Ele teve influência nessa indicação.

E o senhor conhecia?
Não o conhecia. Fiquei conhecendo quando houve essa possibilidade, pro conselho de administração, pro partido, e foi quando fiquei conhecendo.

O fato de o ser o indicado por essa agremiação, pelo Janene, era de conhecimento comum dentro da empresa?
Sim. Da alta administração da companhia, sim.

Inclusive outros diretores, presidentes?
Sim, a resposta era correta, como eu sabia que os outros diretores tinham e quem tinha divulgado.

O ex-presidente Gabrielli tinha conhecimento da indicação dessa agremiação?
Quando entrei, o presidente era o Dutra. Gabrielli só assumiu em 2005. E ele sabia como também o presidente Gabrielli também sabia.

Esse processo em participar diz respeito a supostos desvios de valores da Petrobras através de empresas contratadas da Petrobras. Antes de lhe indagar a esse respeito, vou fazer alerta: não tratamos autoridades com foro privilegiado porque vão ser tratadas pelo STF, então, não decline nomes de autoridades. Pode se referir a agentes políticos, agentes públicos. Evidentemente, isso vai vir a público no momento adequado. Sobre esquemas narrados pelo Ministério Público de desvios de recursos da Petrobras por meio dessas empresas contratadas, o que o senhor pode me relatar?

Na realidade, o que acontecia na Petrobras, mais a partir de 2006 era um processo de cartelização. O que significa. As grandes empresas do Brasil e são poucas que tem fazer uma refinaria, plataforma, navio de processo, uma hidroelétrica, que tem condição de fazer usina nuclear são pouquíssimas. E essas empresas não só no âmbito da Petrobras mas em grandes obras do país, rodovias, hidrovias, fica restrito a essas poucas empresas. Essas empresas no âmbito especifico do abastecimento, 2004 e 2005 tivemos pouquíssimas obras porque o orçamento era restrito e não tinha projeto. As obras começaram praticamente a partir de 2006. E as refinarias novas, o caso especifico da primeira que vai ficar pronta esse ano, a Abreu e Lima, a terraplanagem começou em 2007. Então, teve um período de pouquíssima realização financeira de contratos, porque a maior parte dos recursos era alocada para a área de exploração e produção, a mais importante de qualquer companhia. Quando começou essa atividade ficou claro para mim, eu não conhecia isso. Ficou claro esse acordo prévio entre as companhias em relação às obras. Ou seja. Existia. Claramente isso foi dito pelos presidentes das companhias, de forma muito clara, que havia uma escolha de obras dentro da Petrobras e fora da Petrobras. Por exemplo, usina hidrelétrica, qual estaria disposta? E essa cartelização obviamente resulta em um delta preço. Na área de petróleo e gás, essas empresas entre os custos indiretos e seu lucro, o BDI, entra algo entre 10 e 20%, então dependendo do risco da obra, das condições, 10 a 20 desse BDI. O que acontecia nas obras da Petrobras? Por hipótese, o BDI era 15%, se colocava 3% a mais e esses 3% eram alocados a agentes políticos.

Então, as empresas por esse acerto prévio definiam as ofertas de preço?
Sim

E elas já embutiam o preço que quisessem..
Sim, como falei. BDI em média 15% e 3% de ajuste político. A Petrobras em paralelo a área de engenharia que conduz as licitações da área, por exemplo, todas de abastecimento de grande porte, assim como todas das áreas de exploração e produção e, às vezes, para a internacional e a de gás. Então, existe diretoria que faz essa atividade. O que faz? Pega o cadastro da Petrobras, escolhe as empresas que vão participar desse processo, faz a licitação, uma comissão de licitação. Tem uma equipe que faz o orçamento básico, em cima do projeto faz um valor inicial do que vale essa obra. E esse orçamento básico a Petrobras cobra valores razoáveis. Se a obra é estimada em R$ 1 bilhão, ela acha razoável 20% acima e 15% abaixo. Então, se a empresa dá 25%, ela não vai ser selecionada. Mas, se ela foi a melhor oferta a Petrobras chama essa empresa para baixar para 20% ou menos. Então, essa diretoria é que faz esse orçamento. Então, fez o orçamento, a licitação, abre o preço para todo mundo ao mesmo tempo, e ali define-se então o primeiro colocado e o segundo. Não quer dizer que define o ganhador porque pode ser que quem deu muito abaixo ou muito acima não ganhe.

Mas, esses 3% iriam para agentes públicos?
Perfeito.

Mas, como se chegou a esses 3%? Fez algo que precedeu ou surgiu no decorrer?
Possivelmente já acontecia antes de eu ir para lá. Porque elas trabalham para a Petrobras há muito tempo. Na minha área, 2004 e 2005 praticamente não teve obra. Quando começou a ter os projetos para obras de maior porte, principalmente na área de qualidade dos derivados, gasolina, diesel, foram feitas obras grandes nas refinarias, me foi colocado pelas empresas e também pelo partido que, dessa média de 3%, o que fosse da diretoria de abastecimento, 1% seria repassado para o PP e os 2% restantes ficariam para o PT dentro da diretoria que prestava esse serviço, que era a diretoria de serviço. Isso me foi dito com toda a clareza.

Isso em cima de todo contrato?
Em cima desse contrato dessas empresas do cartel. Existem empresas que não estão no cartel, de médio e grande porte que não tem participação nenhuma. Esse cartel são as principais empresas, talvez umas dez empresas aí que participam desse processo.

E como esse dinheiro era distribuído?
O que era para direcionamento do PP, praticamente até 2008 quem conduzia isso era o deputado José Janene. Ele era responsável por essa atividade. Em 2008, começou a ficar doente e faleceu em 2010. De 2008 quando ficou mais prejudicado passou a ser executado pelo Alberto Youssef. Isso em relação ao PP.

O senhor sabe os caminhos que esse dinheiro tomava?
Meu contato, excelência, sempre foi nível de presidência e diretoria das empresas, eu não falava com operação. Assinava o contrato, passava algum tempo porque depois de passado o contrato, a primeira medição que Petrobras faz de serviço é 30 dias depois. Então, entre o prazo de execução e pagamento é um gap de 60 dias. Então, após esse pagamento, esses 60 dias, é que era possível executar os pagamentos. Então o Janene, que já não era mais deputado em 2008, mantinha contato com essas empresas e esses valores eram repassados para ele e, depois, mais na frente para o Youssef. Agora dentro das empresas tinham o pessoal que operacionalizava isso. Eu não tinha contato.

O que acontecia?
Alberto e Janene ia para distribuição política através deles.

O senhor nunca fez isso?
Nunca fiz.

Os diretores da Petrobras recebiam parcela desses valores?
Em relação à diretoria de serviços todo mundo sabia que tinha um percentual desses contratos da área de abastecimento, de 3%, 2% era para o PT através da diretoria de serviços. Outra diretorias como gás e energia e EP, também tinha PT. Então, se tinha PT na exploração e produção, PT na área de gás e energia e PT na área de serviços. Então, o comentário que pautava dentro da companhia é que nesse caso os 3% ficavam diretamente para o PT. Não tinha participação do PP porque eram diretorias indicadas tanto para execução do serviço quanto para o negócio, PT com PT. Então, se rezava na diretoria que esse valor era integral para o PT. A diretoria internacional tinha indicação do PMDB, então, havia recursos que eram repassados também para o PMDB.

A pergunta que fiz era os diretores. Então, o senhor recebia parte desses valores?
Sim.

Então o que em valores médios acontecia.
Do 1% que era para PP, em média, obviamente que dependendo do contrato, 60% ia para o partido, 20% para despesas de nota fiscal (...). São todos valores médios, e dos 20% restante para 70% para mim e 30% para Janene ou Youssef.

Como o senhor recebia sua parcela?
Recebia em espécie em minha casa, ou no shopping, ou no escritório, depois que abri minha consultoria.

Quem entregava esses valores?
Normalmente, Youssef e Janene.

E na parcela não pertinente a esse 1% era também o Youssef?
Não sei se ele fazia diretamente ou se tinha alguém que fazia para ele.

Isso o senhor menciona a 1% do PP. E para as outras agremiações políticas o senhor sabe quem eram os distribuidores?
Dentro do PT a ligação que o diretor de serviços tinha era o tesoureiro do PT, o senhor João Vaccari. A ligação era diretamente com ele. No PMDB, da diretoria internacional, o nome que fazia essa articulação toda se chama Fernando Soares.

O Baiano, é isso?
Perfeito.

Isso acontecia também com subsidiárias da Petrobras?
Ligado à Petrobras tem a BR, que não não tenho conhecimento de nenhuma atividade lá, e a Transpetro. A Transpetro tem alguns casos de repasse para políticos, sim. Na Transpetro.

A Transpetro que o senhor disse que conhece mais, o senhor recebia também propina em decorrência de contratos?
Recebi. Uma parcela da Transpetro. Recebi se não me engano 500 mil reais.

Quem pagou o senhor?
O presidente da Transpetro, o dr. Sergio Machado.

Isso foi quando?
As datas talvez tenha dificuldade de lembrar, mas se não me engano algo em 2009 e 2010.

O senhor recebeu em uma única oportunidade?
Na Transpetro, sim.

E o senhor poderia dizer por quais motivos?
Sim, foi devido a contratação de alguns navios que depois passariam pela área de abastecimento. Então foi devido a essa contratação de navios pela Transpetro.

E esse valor foi diretamente pago pelo dr. Sergio Machado?
Sim, esse valor foi pago por ele no apartamento dele no Rio de Janeiro.

O senhor mencionou que deixou a Petrobras em 2012.
Em abril.

Mas continuou recebendo valores desse esquema?
Tinha algumas pendências de recebimento a partir da minha saída, e foram feitos alguns contratos com minha consultoria. Foram feitos no ano de 2013. E eu recebi algumas pendências ainda através desses contratos. Vamos dizer de prestação de serviço com essas empresas. Sim, a resposta é sim.

Então esses contratos foram feitos para ter justificativa pros repasses a sua empresa e o senhor.
Perfeito.

Mas esses valores eram relativos ao que era devido anteriormente?
Perfeitamente.

Decorrente desse esquema que o senhor mencionou, 3%, 1%?
Dessa participação, isso, em cima do 1%, né? Perfeito.

Há uma referência na denúncia em relação a um veículo que o senhor Alberto Youssef havia adquirido para você. O senhor pode esclarecer?
Posso. Essa era uma pendência de recursos que também tinha para receber de Youssef. E ele achou conveniente naquele momento repassar aquele recurso através da compra desse veículo. Foi repasse de dívida de Alberto Youssef para comigo.

Mas decorrente de 1%?
Isso! Perfeitamente.

Então, esses valores, pelo que entendi, era pago diretamente pelas empreiteiras aos agentes públicos, não passava para a Petrobras.
Não, não, passava direto das empresas, das pessoas, para os agentes. Não passava nada pela Petrobras.

Quais empresas participavam desse cartel?
Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Iesa, Engevix, Mendes Junior, UTC, há mais citadas na declaração que eu dei.

O senhor informou que fazia tratativas com diretores e presidentes dessas empresas diretamente, é isso?
Perfeito.

E eles tinham conhecimento dessa remuneração?
Sim.

Por exemplo, da Camargo Corrêa com quem o senhor...?
Na Camargo Corrêa com Eduardo Leite.

A OAS também participava?
A OAS também participava

Com quem o senhor tratava?
Leo Pinheiro.

Na UTC?
Ricardo Pessoa.

Na Odebrecht..?
Rogério Araújo e Márcio Faria.

Queiroz Galvão? Participava?
Participava. Ildefonso Colares.

Uma empresa consta como depositante em conta do senhor Alberto Youssef, Toyo Setal...
Sim, Julio Camargo. Toyo Setal também participava da cartelização.

Galvão engenharia?
Galvão Engenharia, Erton participava.

Andrade Gutierrez também?
Andrade Gutierrez também participava. Inicialmente não lmebro o nome da pessoa, depois Paulo Dalmaso.

Iesa participava?
Iesa participava. Eu não to lembrando o nome, tá no depoimento ao ministério Público.

Engevix?
Gerson Matta.

O senhor mencionou de passagem mas para ficar claro. O senhor ocupava diretoria de abastecimento.
Perfeito.

Essa cartelização e esse pagamento desses 3% também era algo que existia em outras diretorias?
Sim, perfeito.

O senhor tem conhecimento de que outros diretores que como o senhor recebia valores?
É, dentro da área de serviços o diretor Duque que foi indicado na época pelo Ministro da Casa Civil, José Dirceu, e ele tinha ligação com o João Vaccari dentro desse processo do PT. Na diretoria internacional tinha o diretor Cerveró que foi indicado por um político e tinha ligação forte com o PMDB.

Mas, o senhor sabe se pessoalmente se por exemplo o sr Nestor Cerveró e o Renato Duque recebiam valores?
Bom, era conversado dentro da companhia e era claro que sim. Sim, a resposta era sim.

Então esses 3% existiam nessas três diretorias?
Correto.

O processo referência a diversos esses depósitos que deveriam ter sido feitos por essas empreiteiras enquanto supostamente controladas pelo sr. Alberto Youssef. O senhor tinha conhecimento disso na época, de que os valores eram controlados por Alberto Youssef?
Não. Porque, como se processava isso, eu não tinha conhecimento. Então, vamos dizer, eu repassava para mim os valores meus e para os políticos os valores para os políticos. Então, eu não tenho detalhe dessa operacionalização.

Os valores que constam dessa denúncia que são especificamente dos depósitos efetuados nessas empresas Sanko Sider nessas contas MO Consultoria e GDF investimento, o senhor tinha conhecimento na época dos fatos?
Como conheci essa empresa, Sanko Sider... Como falei, me aposentei em abril de 2012, e por volta de novembro ou dezembro, em uma reunião em SP, na sede da GDF Investimentos, com Alberto Youssef, ele me apresentou o senhor Márcio Bonilho, que eu não conhecia na época da Petrobras.

Quando foi? Novembro ou dezembro de 2012. Apresentou o senhor Márcio Bonilho nessa época, e qual era o objetivo?
Como eu tinha criado uma empresa de consultoria de petróleo, e mantinha relação com várias outras empresas, não só na área de petróleo, porque o que a Sanko Sider oferece serve para qualquer empresa, serve tubos e conexões de modo geral. E aí o objetivo do senhor Márcio Bonilho, tem um contrato fechado com a Costa Global, que se eu conseguisse novos clientes, eu teria uma participação de 5%, que é praxe em consultoria esse valor, sobre a venda que fosse realizada. E dentro desse contrato tinha R$ 10 mil pagamento mensal para operacionalizar esse trabalho todo, que era conversar com as pessoas, viajar etc. Esse contrato foi assinado ou em dezembro ou janeiro de 2013 e teve três ou quatro faturas pagas, e depois ele me ligou e disse Paulo, estou com dificuldade de caixa e não vou conseguir manter o contrato. Mas, se conseguir mais cliente, os 5% continuam válidos. Mas nesse momento nenhum cliente se interessou por esse tipo de compra, o sucesso. Mas a pergunta que eu fiz, "Márcio, para o cliente Petrobras, se não estiver no cadastro na companhia, você nem vai ser chamado". Eu tenho cadastro. "E você oferece para algum fornecedor? Sim, para a Camargo Corrêa". Falei, não, se fornece para a Camargo Corrêa, é sinal verde para fornecer para outras empresas. Mas eu não tenho conhecimento de depósitos e detalhamento de pagamentos da Sanko SIder para a MO, GFD, não tenho conhecimento.

Então o senhor não sabe se os pagamentos da Sanko Sider para MO e da GFD estavam inseridas naquele procedimento de distribuição de dinheiro do Alberto Youssef.
Não tenho conhecimento.

Pelo que o senhor falou, o senhor não tinha detalhes desse procedimento de distribuição.
Não conhecia. O que eu sabia é que a parte para os políticos, o grupo politico, uma parte tinha despesa e uma parte era para mim e outra pra ele. Mas o detalhamento dessas operações nunca tive acesso e nunca perguntei.

E como o senhor sabe que as pessoas recebiam?
Quais pessoas?

Esses agentes políticos.
Nós tínhamos reunião com certa periodicidade com esse grupo político. E lá se comentava. Nós recebemos isso, nós recebemos aquilo. Na minha agenda que foi apreendida na minha residência, tem uma tabela que foi detalhada junto ao Ministério Público e essa tabela revela vários valores de agentes políticos de vários partidos políticos que foram relativo a eleição de 2010. Essa tabela eu copiei no escritório do Youssef em uma reunião que tive lá com ele.

O senhor celebrou esse acordo com o Ministério Público já foi juntado aos autos e o senhor faz referência a um patrimônio, primeiro US$ 23 milhões em conta da Suíça, o senhor admitiu esses valores?
Perfeitamente, e como já assinei com o ministério Público, para devolução integral desses valores.

E o senhor também admitiu a existência de uma conta no Royal Bank of Canada, nas Ilhas Cayman, é isso?
Perfeitamente. E também já assinei acordo para devolver valor.

Esses valores que o senhor tinha nessas contas seriam referentes a vantagens indevidas que o senhor recebeu?
Perfeito.

Decorrente de seu trabalho como diretor na Petrobras?
Certo.

O senhor também faz referência a uma lancha, Costa Azul, em nome da empresa Sunset
Isso

E um terreno em Mangaratiba?
Isso, a lancha foi devolvida e o terreno foi pago em valores, ao Ministério Público.

Mas esses patrimônios foram adquiridos como produtos dessas vantagens indevidas?
Sim, esses patrimônios, sim.

E esses valores apreendidos na sua casa, R$ 762 mil, cerca de 180 mil dólares (sic) mais 10 mil euros. Qual era a origem?
A parte de euro e dólar eram meus. Dólar que guardei a vida toda, e 10 mil euros de uma viagem a Europa. Os R$ 762 mil eram valores não corretos.

Acho que por hora seriam essas questões que eu tinha a colocar, só mais uma pergunta. Dos acusados, o senhor conhece o Alberto Youssef, não é isso?
Sim, foi apresentado a ele por Renato Janene, Murilo Terrabarros, Esdras, Leandro Meireles, Leonardo Meireles, Pedro Arguese, Valdomiro Oliveira

*

Vou passar as perguntas para o Ministério Público e depois faço algum questionamento.
Ministério Público - Voltando à ingerência que o senhor tinha nos procedimentos licitatórios, e ao processo de cartelização. Pode dizer como eram nomeadas as comissões de licitação nas obras de interesse da diretoria de abastecimento?
Na área de serviço, era feita uma comissão para cada licitação. E essa comissão era indicada normalmente pela área de serviço. Normalmente, um coordenador e três membros. Na área de abastecimento, tinha indicação da área, mas não era eu quem indicava, era grupo técnico que participava. Nunca indiquei. Numa comissão dessa a posição do coordenador é que prevalece. As comissões todas eram indicadas pela diretoria de serviço.

E o senhor tinha a partir do processo de cartelização em algumas oportunidades incluía ou pedia para incluir empresas na seleção?
Às vezes eu tinha reuniões dentro da companhia, até dentro de grupos políticos para incluir empresas. E eu mencionava. Só pode incluir essa empresa se tiver capacidade técnica, administrativa e financeira e a comissão aprovar. Claro que uma indicação do diretor pesava mas a comissão podia chegar a conclusão que essa empresa não podia entrar naquele certame licitatório. Então, tivemos algumas vezes esse pedido de colocação de empresas e também de empresas de menor porte para poder quebrar um pouco esse cartel. Parece um pouco de demagogia, mas é verdade, foi feito isso. E essas empresas de menor porte tivemos muita dificuldade para incluir, e numa dessas reuniões em empresas do cartel, a palavra que me falaram foi essa "você vai quebrar a cara porque elas não vão dar conta". E algumas faliram, quebraram, não deram conta foram à frente. Mas houve de solicitação minha para incluir empresas fora do cartel e para aumentar a concorrência.

Então, para que a empresa do cartel vencer o certame era imprescindível só participar do cartel.
Agora, às vezes participavam empresas fora do cartel que ganhavam a licitação. Isso deixava as empresas do cartel muito... zangadas. Mas ocorreram esses fatos, empresas que ganharam e não eram de cartel. Vários casos desses.

O senhor falou da margem de referência dos contratos, que seria menos 15% e mais de 20% do valor levantado pela Petrobras. As empresas tinham conhecimento de antemão o conhecimento desses valores de referência, a partir do senhor, a partir do Alberto Youssef?
Não, porque a comissão que fazia o orçamento básico era uma comissão direta da área de serviço e a informação que tenho é que esse grupo era muito fechado e muito correto. Nunca tive informação de vazamento de informação. E mesmo se o presidente ou outro diretor tivesse pedido do preço antecipado, a resposta não seria positiva. Então, essa comissão tinha autonomia para fazer o orçamento, que era trancado a sete chaves.

Agora, as fontes de referência para fazer o que a Petrobras usa, é praticamente a mesma. Quanto custa o metro cúbico de concreto, a tonelada de tubo de 10 ton, quantas válvulas de tantas polegadas. Então a referência é a mesma. O que a Petrobras não tem condição de saber é o BDI, quanto a empresa quer aquela margem para seus contratos. Mas a referência de levantamento de dados é praticamente a mesma.

Então, das empresas selecionadas para vencer determinado certame, é possível dizer que ela arbitrava preços próximo aos mais 20% e as outras com valores superiores?
Se fizer levantamento da Petrobras nos últimos dez anos, tem muita variação disso, porque os contratos eram muito exíguos. Você pode encontrar valores de 10% e até valores perto de 10%, e tem também a condição de mercado.

O senhor mencionou uma etapa de renegociação com a Petrobras, de 20%. Participavam as outras empresas?
Não, apenas aquela empresa com preço menor. Chama e tenta renegociar à exaustão. Mas uma só. Se chega à conclusão de que não consegue baixar? Então ela tem que cancelar e fazer nova licitação. Claro que perde seis meses, mas já houve vários fatos nessa linha.

E em relação aos aditivos? Existiam esses repasses de 1% nesses aditivos?
Sim. A Petrobras tinha duas escolhas em relação ao projeto. Concluir o projeto todo, e isso ia demorar muito tempo, seis meses ou entregar o básico para as empresas detalharem. Então não tem a exatidão do projeto completo quando se faz a licitação. Se você prevê naquele contrato 10 mil metros cúbicos de concreto e gastar 15 mil, vai ter um aditivo. E o valor do contrato sobe. Vale para todos os contratos. Esses contratos têm milhares de itens.

E os repasses em aditivo também serão operacionalizados pelo Janene e o Youssef?
O que fosse do PP, sim.

Especificamente sobre o consórcio nacional Camargo Corrêa na obra Abreu e Lima, o senhor pode dizer que a Camargo participou desse cartel e efetuou esses repasses?
Sim.

Nós temos aqui uma planilha apreendidas em seu escritório, supostos contratos da Costa Global. Ela menciona um contrato que seria assinado entre a Costa Global e a construtora Camargo Corrêa, no valor de R$ 100 mil por 30 meses. Esse contrato foi um contrato que visou o recebimento de propinas pelo senhor após a saída da diretoria de abastecimento?
Sim, com exceção de uma consultoria que fiz à Camargo, que avaliei de R$ 100 mil, o restante é sim.

Existe outro contrato que relaciona Camargo Corrêa, com a Costa Global, de número 10, celebrado um pouco antes, R$ 6.000 por 12 meses? Seria esse que o senhor se refere?
Não. Fora esse de consultoria que é um valor pequeno, mas o outro, de R$ 3 milhões, 100 mil foi trabalho realizado.

E desse valor de R$ 3 milhões, o senhor pode dizer se esse valor adveio de recursos recebidos pela Camargo Corrêa por obra da refinaria de Abreu e Lima?
Eu não posso garantir que seja só Abreu e Lima, Camargo Corrêa prestou serviço de várias obras da Petrobras. Eu não tenho como dar essa resposta porque essa informação eu não tenho.

Vou reformular a pergunta. Esse cálculo do percentual que era devido ao senhor depois que saiu da diretoria de abastecimento, ele foi efetuado com base em obras que ainda estavam em andamento, seria isso?
É, vamos pegar o exemplo específico da Camargo Corrêa. A Camargo Corrêa estava executando serviço na Abreu e Lima. Quando saí da Petrobras, em 2012, a refinaria Abreu e Lima estava com cerca de 30% da obra realizado. 70% foi realizado depois de minha saída de lá. Obviamente depois que saí da Petrobras não houve nenhum aporte para mim de abril de 2012 para a frente em relação a coisas que estavam sendo realizadas daquela data para a frente. Esses depósitos são coisas que foram realizadas atrás. Então, são pendências não realizadas até 2012. Depois esse eu não era mais diretor a Camargo Corrêa ou qualquer empresa não ia fazer nenhum repasse para mim se eu não era mais diretor. Repasses eram serviços realizados anteriores a 2012.

O cálculo desse repasse era feito tão logo a empreiteira recebia o pagamento da Petrobras, é isso?
Com 10 ou 15 dias.

Então esses R$ 3 milhões repassados pela Camargo Corrêa era relativo a pagamentos feitos antes de sua saída da diretoria de abastecimento e não feitos ao senhor?
Perfeito.

O senhor sabe dizer se esse pagamento de R$ 3 milhões foram pagos, até quando, integralmente?
Já foi efeituado até o final. Até o final de 2013 tinha uma pendência, mas antes do fim de 2013 foi quitado.

Houve um adiantamento, então..
Houve um adiantamento, perfeito.

Sobre o cartel, as empresas cartelizadas que o senhor mencionou. O senhor falou em reuniões periódicas. O senhor participava?
Não.

Youssef participava?
Acredito que não.

O objetivo era definir quem venceria determinadas obras na Petrobras?
Sim. Não só na Petrobras, mas das obras no Brasil todo.

E como a informação de quem iria vencer as obras chegaria ao senhor e ao Alberto Youssef?
Não chegava. Só sabíamos disso quando era feita a licitação. Não tinha essa informação prévia. Eu nunca soube disso. Só soube quando a licitação era realizada.

O senhor mencionou, em relação à Sanko Sider, o senhor disse que veio a conhecer Marcio Bonilho em 2013?
Não, em 2012, em uma reunião no escritório do Alberto Youssef, em São Paulo.

Sem prejuízo de conhecimento do Bonilho, o senhor havia em algum momento anterior solicitado que essa empresa fosse cadastrada perante a Petrobras?
Nem conhecia essa empresa. A resposta é não, eu não conhecia essa empresa. Não conhecia a Sanko Sider antes dessa apresentação que o Youssef me fez no escritório dele em São Paulo.

Foram levantados em laudo recente anexado pela PF, inconsistências em cadastramento da Sanko Sider no CRCC. Saberia dizer que alguém alterou isso, se alguém interferiu da parte de serviços?
Não. A parte de cadastramento toda da Petrobras, quer seja para prestadores de serviços ou produtos, a Sanko Sider é de produtos, é feito numa área de cadastramento, que é o CRCC que você acabou de mencionar. Essa área de CRCC pertence à da diretoria de serviço. Então dizer que minha área de produção, a área de gás natural, não participava e não participa desse processo. É um processo conduzido integralmente pela diretoria de Serviço. Então, se teve alguma inconsistência, algum erro, alguma coisa, compete à diretoria de Serviços explicar o fato.


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