Folha de S. Paulo


Bancos omitiram autores de depósitos para doleiro

Dois bancos omitiram a identidade dos autores de depósitos que somam R$ 26,4 milhões em contas de uma empresa de fachada do doleiro Alberto Youssef, segundo análise da força-tarefa do Ministério Público Federal que atua na Operação Lava Jato.

Os bancos são o Safra e o HSBC. A empresa do doleiro é a GFD Investimentos, que recebeu depósitos de R$ 76 milhões num período de cinco anos –entre janeiro de 2009 e dezembro de 2013, de acordo com a análise.

Os R$ 26,4 milhões sobre os quais não se sabe quem depositou equivalem a um terço do total recebido por essa empresa de Youssef.

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O doleiro Alberto Youssef mostra equipamento que ele diz ter achado dentro da cela, na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (PR)
O doleiro Alberto Youssef mostra equipamento que ele diz ter achado dentro da cela, na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (PR)

A identificação do depositante (acima de R$ 10 mil) faz parte das regras do Banco Central de combate à lavagem de dinheiro. Há uma razão simples para isso: sem saber quem fez o depósito torna-se impossível saber se o dinheiro tinha origem lícita.

"A omissão dos dados das origens dos recursos (...) transgride os regulamentos do Banco Central", escreveram os analistas no documento da Procuradoria.

A falta de identidade dos depositantes tem dois efeitos que prejudicam a apuração de crimes financeiros: preserva o nome de quem fazia negócios suspeitos com o doleiro e dificulta a análise dos fluxos de recursos.

O HSBC disse que que colabora com as autoridades sempre que requisitado (leia o outro lado).

PROPINA

Os procuradores do caso dizem em ações penais que já tramitam na Justiça que os recursos que ingressavam nas empresas de fachada do doleiro eram destinados a pagamento de propina. Dois réus e uma testemunha da Operação Lava Jato que decidiram colaborar com a Justiça confirmaram esse uso.

A GFD era usada pelo doleiro para negócios aparentemente legais, como a rede Web Hotéis, e ilícitos, como a simulação de prestação de serviços, ainda de acordo com os procuradores.

Preso desde março na Polícia Federal em Curitiba, o doleiro decidiu fazer um acordo de delação premiada para tentar conseguir uma pena menor. Ele é acusado de liderar um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões.

Apontado como parceiro de Youssef, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa também fez um acordo de delação e agora está em prisão domiciliar, no Rio.

PETROBRAS

A maioria das empresas que fez pagamentos à GFD Investimentos são fornecedores da Petrobras, como Sanko Sider, Mendes Junior, Paranasa e Clyde Union.

Os maiores depósitos entre os fornecedores da Petrobras foram feitos pelo grupo Sanko (R$ 6 milhões) e Mendes Junior (R$ 5,6 milhões quando se somam os depósitos da empreiteira e de um consórcio liderado pela empresa, do qual faz parte a MPE).

A Sanko diz que os pagamentos que fez à GFD são referentes à comissão pela venda de tubos feitas pela empresa do doleiro (leia o outro lado).

Segundo a Polícia Federal, a Sanko teve papel central no esquema criado pelo doleiro e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa para distribuir suborno a políticos. A fonte da propina eram contratos superfaturados de obras da estatal, como a da refinaria Abreu e Lima, diz a PF.

Laudo da Polícia Federal aponta que um consórcio liderado pela Camargo Corrêa, contratado para construir uma parte da refinaria, repassou R$ 37,7 milhões ao doleiro usando o grupo Sanko como intermediário. O consórcio, chamado CNCC, conquistou o maior contrato para a construção da refinaria, de R$ 3,4 bilhões.

Além do consórcio, a própria Camargo Corrêa é acusada de ter repassado R$ 3,6 milhões ao doleiro por meio da Sanko. Nos dois casos, segundo o laudo, a empreiteira pagou a Sanko por serviços que não foram prestados –o que os advogados da Camargo Corrêa negam.


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