Folha de S. Paulo


Eleição para o Senado foi a que mais teve votos brancos e nulos

Os candidatos ao Senado não agradaram tanto o eleitor quanto os para os demais cargos em disputa nesta eleição. Levantamento da Folha a partir do resultado das urnas mostra que o percentual de votos em branco ou nulos para senador é maior do que para qualquer outro.

Embora o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não tenha divulgado a média nacional de nulos e brancos para o Senado, a análise dos dados estaduais deixa claro o fenômeno (veja quadro).

Esses votos chegam a ser maiores que os para deputados federais e estaduais, mesmo considerando a votação em candidaturas ainda sob análise da Justiça Eleitoral -e que, portanto, ainda são contados como nulos pelo TSE.

Em mais da metade dos Estados, pelo menos um de cada cinco votos para senador foi branco ou nulo.

São Paulo -onde José Serra (PSDB) venceu Eduardo Suplicy (PT)- bateu o recorde: 26,22% de votos nulos ou brancos. O menor percentual foi em Roraima, 10,40%.

Esse cenário, em que brancos e nulos para o Senado superam os para os demais cargos em disputa, vem se repetindo nas últimas eleições. O resultado é o mesmo pelo menos desde 2002.

Aldo Fornazieri, professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, afirma que um dos fatores que levam a essa rejeição é a forma como as campanhas políticas são feitas, enfatizando os cargos executivos -em especial para a Presidência.

"Há mais tempo de rádio e TV para candidatos a governador e, principalmente, presidente. A eleição é polarizada no Executivo. É natural o eleitor não saber quem é candidato ao Senado", diz.

Outro fator que explica a situação, aponta o cientista político Vitor Manchetti, professor da Universidade Federal do ABC, é a dificuldade que o eleitor tem de acompanhar o processo Legislativo.

"A política brasileira orbita o Executivo. Tem-se a impressão de que é a Presidência que toma todas as decisões. A atenção do eleitor vai para o Executivo", diz.

Além disso, o senador é mais distante do eleitor que o deputado, que frequenta mais sua base e tem presença junto a políticos locais, reforçando sua candidatura.

Editoria de arte/Folhapress

HIERARQUIA

O percentual de brancos e nulos para governador também fica acima do registrado para presidente, mas é inferior ao do Senado.

Para o professor Fornazieri, isso confirma a hierarquia que o eleitor estabelece para a política nacional.

"Em primeiro lugar vem o presidente, depois o governador. E só depois vêm os cargos legislativos", aponta.

Considerando a votação para presidente, a média nacional foi de 3,84% em branco e 5,80% deles nulos.

As abstenções chegaram a 19,39% neste primeiro turno, o índice mais alto das últimas eleições. Porém, como o TSE não concluiu o cadastro biométrico, é possível que parte dos eleitores faltantes já tenham morrido.

Colaborou MARCELO SOARES, de São Paulo


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