Folha de S. Paulo


Preso por ser comunista em 1964, pai de Dino era um 'leproso moral' no MA

Homenageado por Flávio Dino em seu primeiro discurso como governador eleito do Maranhão, o advogado Sálvio Dino, 82, diz que o filho poderia ter tido mais do que os 63,52% de votos que lhe garantiram a vitória no primeiro turno se não fosse filiado ao PC do B.

Durante a campanha eleitoral, Dino foi duramente atacado pelo adversário Lobão Filho (PMDB), que usou, por exemplo o argumento de que o ex-juiz iria "implantar o comunismo" no Maranhão e que ameaçaria a liberdade religiosa no Estado –por causa do nome de seu partido.

Os piores ataques, no entanto, partiram do grupo de Lobão, que insinuou que Dino teria ligações com as ações criminosas contra ônibus de São Luís.

Para o pai do novo governador, essas acusações encontraram eco numa parcela da sociedade maranhense. "Ainda há famílias muito conservadoras. Acredito até que, se ele saísse por um partido mais light, a votação dele seria maior", disse Sálvio à Folha, ressaltando em seguida que a sociedade "evoluiu".

Diógenes Campanha/Folhapress
Sálvio Dino usa camiseta à la Obama, mas com a imagem do filho e a inscrição
Sálvio Dino usa camiseta à la Obama, mas com a imagem do filho e a inscrição "mudança"

No discurso da vitória, Dino lembrou que o pai teve o mandato de deputado estadual cassado em 1964. Assim como dezenas de outros políticos, o "sr. Sálvio" foi cassado após o golpe militar sob a acusação de ser comunista. "Nós vencemos, pai. Os comunistas venceram", afirmou.

"Na época, comunista era visto como bicho-papão", afirmou Sálvio. "Cinquenta anos depois, meu filho é o primeiro comunista eleito para governar um Estado."

Um dos grandes apoiadores ao regime militar (1964-84) no Estado depois do golpe foi José Sarney, 84, já um político importante no Maranhão na época e ironicamente amigo do pai de Dino. Partiu do senador a insinuação de que o governador eleito teria ligações do governador eleito com os ataques a ônibus.

RUMOS OPOSTOS

Além da cassação, o pai de Dino foi passou 40 dias preso por "atividades subversivas e comunistas". "Quando eu saí, as pessoas me olhavam em João Lisboa como um leproso moral", lembra.

Depois do golpe, Sarney deixou o conservador UDN, foi para a Arena (partido de sustentação da ditadura) e acabou presidente da República.

Amigo do senador da mesma época de graduação na faculdade de direito, Sálvio só voltou à política dez anos depois de sua cassação, e pela Arena de Sarney.

Sobre a amizade, Sálvio conta que eles cresceram juntos no movimento estudantil. "Só que eu fui degolado [passa o dedo na frente do pescoço], e ele ascendeu [politicamente]", diz.

A ligação com Sarney foi questionada por adversários de Dino, que apontavam contradição entre seu discurso antioligárquico e o relacionamento do pai. "Desde os 16 anos tive visão diferente da dele [pai], e ele respeitava isso", respondia o então candidato durante a campanha.


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