Folha de S. Paulo


Análise: Fantasma de Pirro assombra a campanha petista ao Planalto

Encerrado o primeiro turno com um resultado bem mais desfavorável do que previam governo e PT, o fantasma de Pirro assombra a campanha de Dilma Rousseff.

Rei grego notório em seus embates com Roma, Pirro de Épiro (319/318 a.C.-272 a.C) ficou famoso por usar todos seus recursos em batalha. Assim, mesmo no triunfo, colheu o que ficou conhecido como "vitória de Pirro", ou seja, aquela que pode derrotar o vencedor por exaustão.

Acuada, Dilma apelou ao embate típico de segundo turno, violento e pessoal, para desmontar Marina Silva. Mas a pessebista pode ter caído mais por suas respostas, e pelo espaço exíguo na TV, do que pelas acusações em si.

Agora será a vez de Aécio Neves. Mais experiente e melhor assessorado, e com tempo igual no horário gratuito, ele terá uma posição mais reforçada, e a virulência petista terá de ser dosada para não afastar o eleitor.

A vitória maiúscula do tucano em São Paulo, maior colégio eleitoral, coloca o engajamento do reeleito, Geraldo Alckmin (PSDB), como fator preponderante para a estratégia dilmista. Se Alckmin mantiver o aparente esforço pró-Aécio da última semana, o PT terá problemas.

Há outros temores. Dilma pode estar voando no seu teto eleitoral cercada de nuvens de rejeição, o impressionante "sprint" de um Aécio que esteve desacreditado, o real destino do voto mudancista em Marina e o efeito de um eventual apoio dela aos tucanos nesse mesmo eleitor.

Completa o quadro a dupla de urubus a sobrevoar o Planalto: economia em frangalhos e o imprevisível escândalo da Petrobras.

Há também o desgaste do PT e de Lula. O comando dilmista e a estrutura partidária não se bicam. Já o ex-presidente viu seus "postes" fracassarem país afora, com destaque à debacle paulista.

O maior sucesso do partido, em Minas, é de um candidato que é mais tucano do que muitos filiados do PSDB. E é de lá que surgem boas notícias para Dilma. A vitória dá um argumento forte aos petistas, o de que derrotaram Aécio em seu quintal.

O trunfo libera o PT para trabalhar em favor de Dilma, assim como poderá fazer com a virada na populosa Bahia.

Por fim, a estrutura do governo e o reforço do discurso do medo para ampliar a fidelização dos mais pobres com o temor de redução de benefícios sociais são armas poderosas. A reeleição sempre concede algum grau de favoritismo a quem está na cadeira, mas o cenário não permite tranquilidade a Dilma.


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