Folha de S. Paulo


Ex-comerciante de roupas, dona Cícera hoje vende o PT em Guarulhos

Maria Cícera Barros dos Santos da Fonseca, 48, ou simplesmente dona Cícera, tem "política no sangue". A alagoana da pequena cidade de Arapiraca, a 136 km da capital Maceió, filha de um vereador e de uma dona de casa, migrou para São Paulo em 1988, em busca de oportunidades.

Carismática e "com vontade de levar progresso" ao Conjunto Marcos Freire, na periferia de Guarulhos, tornou-se líder comunitária, petista de carteirinha e uma importante puxadora de votos na região.

"O PT mudou este país", afirma. Cícera tem dados sobre o Mais Médicos, o Ciência sem Fronteiras, o Bolsa Família e o Prouni, na ponta da língua. "É preciso conhecer para argumentar com a oposição e com eleitores indecisos", conta. Foi como comerciante de roupas que Cícera aprendeu a vender seu peixe. "Era boa vendedora, vendia bastante", diz, em meio a risos.

Danilo Verpa/Folhapress
Cícera Barros é militante e puxadora de votos do PT na periferia de Guarulhos há quatro eleições
Cícera Barros é militante e puxadora de votos do PT na periferia de Guarulhos há quatro eleições

Ela usa a sua popularidade para tentar tirar votos de Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) e para convencer os indecisos. "Não interessa entregar panfleto. Vou de casa em casa, as pessoas me chamam para entrar, eu sento para falar sobre a importância de votar na Dilma, no Padilha." Assim ela fica, até sentir que o vizinho está confiante no que diz. "Posso passar a tarde inteira com a pessoa. E não adianta convencer só uma pessoa, tem que ser a família inteira."

Nessa reta final de campanha, é hora de firmar o eleitor com os candidatos petistas. Cícera volta a falar com cada morador e entrega o santinho com os números dos candidatos que defende.

Na avaliação de Cícera, existem dois tipos de eleitor do PSDB: o que conhece bem a política do partido e o que pode ser convertido. "Eu pergunto o que o Aécio fez pra ele e não sabe dizer nada." Além dos indecisos, a petista diz que consegue trazer facilmente para o lado de Dilma os eleitores de Marina, pois a candidata do PSB é pouco conhecida.

"Para convencer o eleitor, também comparo o período FHC ao de Lula e Dilma. Hoje, dá para pobre comprar carro e casa, fazer intercâmbio e universidade", diz.

Cícera começou a fazer política nas eleições municipais de 2008, dez anos depois de se mudar para Guarulhos com o marido e os três filhos. Para acompanhar as crianças, passou a fazer trabalho voluntário na escola e, pouco tempo depois, foi contratada como inspetora.

Em uma década de trabalho escolar, ela construiu uma rede de amizades e contatos, entre professores e pais de alunos. "Era bem presente na escola e as mães confiavam em mim", comenta. "Um dia, um professor disse: 'como a senhora conhece bastante gente, gostaria de apresentá-la a um amigo que será candidato a vereador'." O tal amigo, Rômulo Ornelas (PT), foi eleito para a Câmara Municipal de Guarulhos. A petista conta que, segundo a apuração das urnas, sua equipe conseguiu 380 votos para ele em sua zona eleitoral.

Em 2012, Ornelas foi reeleito. Dessa vez, ele teve 980 votos na zona eleitoral onde Cícera atua.

Como assistente social, ela ajuda moradores a arrumar advogado, lugar em clínica para dependente químico, ambulância, serviço funerário. "Ligo na prefeitura, na ouvidoria, reclamo e acompanho as pessoas em alguns casos", conta.

Ela nega conseguir privilégios. Afirma que "leva informação aos moradores" e que todos os serviços que auxilia são oferecidos gratuitamente pela Prefeitura de Guarulhos. "Muitos não sabem que têm direito ao Bolsa Família, eu explico e oriento. As pessoas não sabem dos seus direitos, não têm informação e, por isso, acabo me tornando referência no bairro".

Questionada se pretende se candidatar a algum cargo político futuramente, Cícera nega. "Política tem que estar no sangue. É de geração para geração, mas eu gosto é de estar no meio da rua conversando com o povo."


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