Desde que se licenciou do cargo de governador do Ceará, Cid Gomes (Pros) entrou com tudo e à sua maneira na reta final da campanha. Circula de jipe com o candidato a seu sucessor, Camilo Santana (PT), faz "adesivaços" em carros nas ruas de Fortaleza e desempenha o papel de "apresentador de talk show" em comícios.
Uma dessas cenas foi vista na noite de segunda-feira (29). Após o locutor anunciar a chegada de Cid e do "futuro governador do Ceará" a um comício, ouviu-se o ronco de um jipe amarelo, 4x4, com Cid ao volante e Camilo na traseira, ao lado do candidato ao Senado Mauro Filho (Pros) e do atual prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (Pros).
Fugindo ao protocolo, após fazer o motor do jipe roncar forte, Cid manobrou o veículo por cima da calçada que abrigava cerca de 300 cadeiras de plástico para convidados. Às pressas, eles tiravam as cadeiras enquanto o jipe avançava determinado até o palco. Ao se aproximar do palanque, os quatro políticos deram as mãos e acenaram para a multidão.
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| Ao volante, Cid Gomes (Pros) participa da campanha de Camilo Santana (PT), candidato ao governo do Ceará |
Essa foi a primeira aparição pública de Cid Gomes após se licenciar do governo para se dedicar à campanha. Sem possibilidade de se eleger novamente, Cid passou a apoiar seu ex-secretário para sucedê-lo.
Desde o início da semana, Cid vem cumprindo uma maratona de eventos pelo interior do Ceará. Visitou seis cidades em quatro dias, com agendas que incluíram carreatas, passeatas e ligações para líderes locais.
Camilo está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, tecnicamente empatado com o senador Eunício Oliveira (PMDB). De acordo com o Datafolha, ele tem 37% do eleitorado, ante 39% do adversário. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais (para mais ou para menos).
Em cima do palco, Cid disse que usaria o jipe –que vem sendo chamado de "Cidmóvel"– para promover a campanha de Camilo na semana que precede as eleições. Também fez referência às críticas que recebeu de Eunício por ter se licenciado do governo.
"O outro lá tem dito que é um absurdo o governador se licenciar enquanto o Ceará vive uma das piores secas. Mas eu respondo. É uma questão de prioridade. Pior do que a seca é um despreparado vencer a eleição. Porque o resultado dura por quatro anos", bradou.
O comício, segundo Cid, era uma "reunião estratégica" com os prefeitos aliados para apontar os caminhos para a vitória de Camilo. Dos 184 municípios cearenses, cerca de 120 –incluindo a capital– apoiam o projeto dos irmãos Cid e Ciro Gomes (Pros). A campanha do petista é a mais cara do Estado (R$ 11,3 milhões gastos) e com maior tempo de TV (8 minutos e 53 segundos).
SEM PROTOCOLO
Após discursar, Cid abriu espaço para os prefeitos falarem. Quando um deles pedia a palavra, Cid jogava o microfone para o alto e dizia: "Pega aí".
O governador é dado a ações que fogem do ritual do cargo. Em oito anos de governo, já mergulhou no fundo de uma adutora para tentar consertar um tubo avariado, andou e caiu de skate na inauguração de uma praça no interior do Estado e usou uma motoneta para fazer campanha para Roberto Cláudio em 2012.
Agora, reeditou sua participação em "adesivaços" nos sinais de trânsito da capital cearense. Acompanhado de assessores, Cid escolhe um ponto da cidade, espera o sinal fechar e se apresenta a motoristas pedindo para fixar adesivos de seu aliado nos veículos. A recepção, geralmente, é positiva.
Antigo aliado de Eunício, que chegou a indicar nomes para seu secretariado, Cid tem criticado o adversário com veemência. À imprensa local o governador disse que o peemedebista era "muito ambicioso", "misturava política com negócios" e era "chegado a mentiras".
Apesar dessas críticas, o governador tem deixado para o irmão Ciro Gomes o papel de "tira mau" nos comícios de campanha. Ciro já chamou Eunício de "ladrão", "Pinóquio", "aventureiro" e "lambaceiro", além de constantemente usar as redes sociais para desferir ataques ao oponente. O peemedebista diz que vai processá-lo.
Os irmãos Gomes e Eunício foram aliados nas duas últimas eleições para a Prefeitura de Fortaleza (em 2012) e na reeleição de Cid (em 2010). As relações azedaram quando o senador pediu indicação para concorrer na chapa governista, o que foi negado.
Questionado pela reportagem se o rompimento entre eles era definitivo, Cid contemporizou: "Nada é definitivo. Política você se alia num momento, briga mais à frente. Não dá para prever nada. Os contextos vão ditando os rumos. Ninguém sabe o que acontecerá daqui a quatro anos", disse.