Na sala de reunião de um hotel de São Paulo, Dr. Rey se acomoda em uma cadeira de frente para a porta. Enquanto exibe seu lado esquerdo para a câmera ("meu melhor perfil") e ajeita os broches em formato de Bíblia e de seu partido, o PSC (Partido Social Cristão), explica o que o levou a se sentar ali.
"Sempre de costas pra parede, bebê! Nesse mundo agora político sempre tem aquele elemento com problema mental que pode chegar por trás e..."
Sem completar a frase, o cirurgião plástico e apresentador do reality show "Dr. Hollywood" (RedeTV!) imita uma pessoa sendo enforcada. "Um gringo lá em Beverly Hills tentou me enforcar porque reclamou que meus filhinhos faziam barulho", conta. Rey se levanta e mostra como revidou naquela ocasião: chega por trás de seu advogado e aplica um mata-leão de mentira.
"Irmã, 96% do mundo é suave e 4% sabem lutar. Não é boa ideia enforcar um brasileiro!", fala, tirando da carteira suas credenciais de associações de caratê e jiu-jitsu. Na sequência, passa a mão no braço da repórter e dispara: "Seu peitinho é natural?"
A paranoia de não se sentar de costas para a porta não é a única que Roberto Miguel Rey Jr., 52, tem em sua primeira campanha eleitoral. Candidato a deputado federal pelo PSC em São Paulo, o paulistano que aos 12 anos foi para os Estados Unidos e lá estudou medicina e se tornou o Dr. Hollywood, cirurgião das celebridades, diz que não viaja de avião para seus compromissos políticos.
"Bebê, o avião dos candidatos não pousa no Brasil", afirma. "Você acha que 'diverticulitis' [diverticulite, em inglês] matou Tancredo Neves? Acha que Getúlio Vargas se matou?", gargalha. "Não tem democracia no Brasil. É quase um socialismo pago, chegando ao comunismo. Campanha aqui é perigosa."
Com um patrimônio declarado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de R$ 16,9 milhões, licenças de produtos de beleza e uma rede de clínicas de estética, entre outros bens, Rey decidiu correr esse "risco". "Me olho no espelho e digo 'Rey, você está louco!'. Eu, mórmon, saio dos corredores classe A de Harvard e caio na corrupção quase total. Mas amo o Brasil. Pediram sangue novo na política, o Rey chegou!"
A apresentação do médico à corrida eleitoral conta com um plano de carreira detalhado: quer ser deputado, prefeito e presidente da República.
"O Brasil está pronto para o Primeiro Mundo e precisa de um John F. Kennedy brasileiro que estudou na Harvard, que fala bem o inglês", afirma ele, que conta ter investido R$ 2 milhões em sua campanha. "Se eu não for eleito, volto pra Beverly Hills. Já você está presa aqui, bebê!"
CASAMENTO GAY
Rey conta que foi procurado por sete partidos para disputar esta eleição. Optou pelo PSC que tem como presidenciável Pastor Everaldo, contrário ao casamento gay e ao aborto, "porque é o único partido que realmente propõe a redução de impostos e não tem vergonha de Deus".
Chamado com frequência de "Doctor Gay" ("Por que? Seu namorado leva essas coisas no bolso?", diz, tirando um pó compacto e dois vaporizadores de perfume), o candidato não se posiciona sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
"Onde alguém enfia o pinto dele não é o problema do Brasil. O importante, pra mim, é saber onde eu coloco o meu pinto [gargalhada]", afirma. "O problema do Brasil é que estamos correndo para a direção da hiperinflação. Estou interessado em baixar impostos, não em legalizar a cannabis. Isso é assunto pra filhinho de papai."
Se eleito, o apresentador garante que será ativo no Congresso. "Não vou ser outro Clodovil!" E avisa que, se seus projetos forem vetados, botará a boca no trombone. "Vou pra mídia! Você me criou, bebê. Quem criou o Obama? A mídia! Eu com a mídia sou invencível."