Folha de S. Paulo


Alvo do PT, Marina se contradiz sobre CPMF

Alvo de acusação do PT de que mentiu sobre seu passado legislativo, Marina Silva (PSB) apresentou versões contraditórias a respeito de sua participação nas votações relativas à CPMF, o chamado "imposto do cheque", que vigorou no Brasil do início dos anos 90 até 2007.

Diferentemente do que vinha dizendo, a candidata do PSB votou, quando era senadora, quatro vezes contra o tributo –duas na emenda à Constituição enviada em 1995 por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para criá-lo e duas em 1999, na votação de sua prorrogação.

Marina afirmava que, como prova de que não faz "oposição por oposição", havia contrariado seu então partido, o PT, e votado a favor da CPMF proposta pelo governo tucano. Mas, na verdade, só votou a favor da regulamentação da cobrança.

"Quando foi a votação da CPMF, ainda que o meu partido fosse contra, em nome da saúde, em nome de respeitar o interesse dos brasileiros, eu votei favorável mesmo [o projeto] sendo do seu governo [Aécio Neves], o PSDB", disse Marina no debate da TV Bandeirantes, em agosto. Em sabatina no portal G1, dias depois, repetiu o discurso.

Desde o domingo (28), Marina tem sido alvo de propaganda do PT que afirma que ela mentiu sobre o tema. No debate da TV Record, também neste domingo, Dilma Rousseff (PT) afirmou: "Não entendo como a senhora pode esquecer que votou quatro vezes contra a criação da CPMF. Atitudes como essa demonstram insegurança."

No debate, Marina mudou sua versão, lembrando que a discussão sobre o tributo passou por várias etapas, e que havia votado a favor, no plenário e em comissão, à criação do Fundo de Combate e Erradicação à Pobreza.

O fundo, proposto pelo senador Antonio Carlos Magalhães (1927-2007), seria composto em parte com recursos da CPMF. Questionada na saída do evento se não havia votado contra nessa ocasião, Marina se corrigiu e disse que, no plenário, mudanças que retiravam recursos do fundo a levaram a se opor.

A ofensiva contra Marina faz parte da operação do marketing petista para desconstruir a imagem da candidata do PSB e apresentá-la como uma política não confiável.

Em nota divulgada nesta segunda (29), a campanha de Marina diz que o PT perpetua uma "incansável campanha de fofocas e mentiras". O texto omite suas votações contrárias à CPMF. A nota ressalta que Marina votou a favor da lei que regulamentou o tributo, em 1996, seguindo a posição da bancada do PT.

"A então senadora pelo PT se opôs a todas as propostas em debate que ofereciam a possibilidade de distorção da finalidade social da CPMF [...] Com dados parciais retirados do contexto inventa-se e repete-se uma mentira. Manobra de quem perdeu a cabeça e as medidas, manobra de desesperados", diz a nota.

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Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Encontro de Marina Silva com jovem empresarios na Endeavor
Encontro de Marina Silva com jovem empresarios na Endeavor

PASSANDO A LIMPO
Quando era senadora, Marina votou quatro vezes contra a CPMF

  • O que é a CPMF? Tributo federal sobre movimentações financeiras, conhecido como imposto sobre o cheque. Vigorou de 1997 a 2007 e custeava gastos com a saúde, a previdência e o combate à pobreza. Sua última alíquota foi de 0,38%
  • Por que a polêmica? Em debate na TV Record no domingo (28), Dilma Rousseff (PT) acusou Marina Silva (PSB) de ter votado quatro vezes contra o imposto –o que é verdade

COMO MARINA VOTOU

  • 1995 - Contra Então filiada ao PT, Marina votou duas vezes contra a PEC que criou a CPMF
  • 1996 - A favor Em votação simbólica, foi favorável à lei que regulamentou a CPMF
  • 1999 - Contra Em nova votação do Senado para prorrogar a CPMF, Marina também foi contra duas vezes
  • 2000 - Contra Diferentemente do que tem afirmado publicamente, Marina votou contra a aplicação dos recursos da CPMF no Fundo de Combate à Pobreza
  • 2001 - A favor Em junho, Marina votou a favor de um projeto de lei complementar que regulamentou o Fundo de Combate à Pobreza, um ano depois de sua criação
  • 2002 - Neutra Dessa vez, em análise no Senado de PEC que prorrogou a CPMF mais uma vez, Marina estava presente, mas optou por não registrar voto
  • 2007 - Neutra Na polêmica votação que derrubou a CPMF, em 2007, Marina estava licenciada do Senado

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