Folha de S. Paulo


Em debate, Dilma explora contradição de Marina sobre voto no Senado

No quarto e penúltimo debate entre os candidatos à Presidência antes do primeiro turno, a presidente Dilma Rousseff (PT) intensificou na noite deste domingo (28) a estratégia de campanha do PT de tentar colar na rival a imagem de uma política não confiável e que muda de posição ao sabor das circunstâncias.

De acordo com a última pesquisa do Datafolha, Dilma (40% das intenções de voto) e Marina (27%) disputariam o segundo turno caso as eleições fossem hoje.

Seguindo a mesma linha de uma propaganda que sua campanha levou ao ar neste domingo, a petista acusou a pessebista, no debate promovido pela TV Record, de ter mentido sobre a posição que ela adotou, no Senado, durante as votações relacionadas à CPMF.

O chamado "imposto do cheque", que retinha parte da movimentação bancária da população, vigorou no país até 2007.

A CPMF foi criada em 1996 por uma lei que destinou seus recursos ao Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza. Anos depois, o fundo foi incorporado junto com o tributo ao texto da Constituição, para garantir a vinculação de seus recursos à saúde e tornar mais difícil qualquer tentativa de acabar com ele.

Como o objetivo de dizer que não faz "oposição por oposição", Marina vinha afirmando que votou a favor da criação da CPMF apesar de seu partido na ocasião, o PT, ter sido contra o tributo.

"Não entendo como a senhora pode esquecer que votou quatro vezes contra a criação da CPMF. Atitudes como essa demonstram insegurança. Me estarrece como a senhora não lembra disso", afirmou Dilma logo na abertura do debate.

A pessebista rebateu afirmando que é alvo de uma onda de "calúnias e boatos". E lembrou que a votação da CPMF passou por várias etapas. Segundo ela, na discussão do fundo de combate à pobreza, votou a favor.

"Eu tenho total coerência com as posições que defendo e foi por isso exatamente que eu disse que não faço oposição por oposição, que eu sei o que é melhor para o Brasil."

Em 26 de agosto, no debate na TV Bandeirantes, Marina afirmou: "Quando foi a votação da CPMF, ainda que o meu partido fosse contra, em nome da saúde, em nome de respeitar o interesse dos brasileiros, eu votei favorável mesmo [a proposta] sendo do seu governo, o PSDB".

Nesta segunda, a campanha de Marina irá soltar nota dizendo que a então senadora, no começo da discussão, votou contra a CPMF, mas que depois defendeu dentro do PT uma mudança de posição como forma de aumentar os recursos do combate à fome.

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Os ataques a Marina seguem a estratégia adotada pela campanha petista desde que a pessebista colou em Dilma e passou a derrotá-la nas pesquisas que simularam a disputa no segundo turno.

Entre outros pontos, a propaganda petista acusou a rival de representar uma ameaça aos programas sociais e a desprezar os recursos do pré-sal. Depois do início dessa artilharia, Dilma voltou a superar Marina no primeiro turno e, segundo o Datafolha, está numericamente à frente da oponente na simulação de segundo turno, embora no limite da margem de erro.

A campanha do PT atribui aos ataques a melhora de Dilma nas pesquisas

No debate deste domingo, a presidente da República voltou a martelar um dos pontos da artilharia, que é acusar Marina de ameaçar a continuidade dos programas sociais ao defende uma revisão da política de subsídios dos bancos públicos.

Marina voltou a repetir que caso eleita não irá interromper nenhum dos programas sociais do governo federal.

"A senhora mudou de partido quatro vezes [na verdade foram duas] nesses três anos. Mudou de posição de um dia para outro em termos, em problemas de extrema importância, como a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho], a homofobia e o pré"'sal", atacou Dilma.

A petista se referia a recuo de Marina em seu programa de governo na proposta à comunidade gay e à menção lateral ao pré-sal. Sobre a CLT, o PT divulga a versão de que Marina pretende tirar direito dos trabalhadores, o que a candidata do PSB nega com veemência.

No debate, Aécio Neves (PSDB) tentou manter a polarização com Dilma Rousseff como forma de sinalizar que ainda está vivo na disputa. Segundo o Datafolha, ele está com 18% das intenções de voto, nove atrás de Marina.

O quinto e último debate entre os candidatos à Presidência será realizado na quinta-feira (2), na TV Globo, três dias antes da realização do primeiro turno das eleições.


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