Folha de S. Paulo


Pena gera impasse em delação de doleiro

O tempo que o doleiro Alberto Youssef deverá permanecer na prisão após revelar o que sabe sobre Petrobras, políticos e seus negócios ilícitos criou um impasse na negociação do acordo de delação premiada feita entre os seus advogados e o Ministério Público Federal.

Enquanto os procuradores querem que o doleiro cumpra ao menos quatro anos de regime fechado e quatro de regime aberto, a defesa de Youssef diz aceitar três anos de regime fechado.

"O acordo está muito difícil. Não vou aceitar algo que não seja bom para o meu cliente", diz o advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto, que defende Youssef.

Os procuradores exigem que o doleiro permaneça um tempo mínimo em regime fechado porque ele descumpriu um acordo de delação que assinou em 2004, após ser preso por remessas ilegais de dólares. Ele se comprometeu a abandonar o mercado paralelo, mas voltou a atuar numa escala ainda maior, segundo a Polícia Federal.

O doleiro deve perder também todos os seus bens, como a conta na Suíça com US$ 5 milhões encontrada por autoridades daquele país, a rede Web Hotéis e um apartamento em São Paulo, avaliado em R$ 2,5 milhões.

A PF tem indícios de que ele tem muito mais recursos no exterior, mas seis meses depois de sua prisão, não há um quadro claro de todos os bens de Youssef.

A Folha revelou nesta terça (23) que o doleiro decidira partir para a delação para tentar deixar a prisão o mais rapidamente possível. Ele é réu em nove ações penais e pode ser condenado a cem anos de prisão.

Youssef optou pela delação após pressões da família e depois que Paulo Roberto Costa, diretor da Petrobras entre 2004 e 2012, também decidiu colaborar com a Justiça em troca de pena menor.

DESISTÊNCIA

A defesa de Youssef desistiu de todos os recursos no Superior Tribunal de Justiça e demais tribunais para anular a Operação Lava Jato.

O pedido é uma exigência do Ministério Público para aceitar o acordo de delação premiada.

A desistência foi apresentada no STJ nesta quinta (25) pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defendia o doleiro no STJ e saiu do caso por ser contra o instituto da delação.

Segundo ele, a exigência de desistência de todos os recursos "submete os tribunais superiores a um juiz de primeiro grau". "Essa exigência é um estupro", afirma Kakay.

Com a desistência dos recursos, a expectativa de Figueiredo Basto é que o acordo de delação seja assinado na próxima semana, após o ajuste nas divergências.

Preso desde 17 de março, Youssef é acusado de comandar esquema responsável pela lavagem de R$ 10 bilhões, com ramificações em estatais como a Petrobras e partidos como o PP, PT e PMDB.


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