Folha de S. Paulo


FHC compara caso Petrobras ao mensalão

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o governo federal deve responder, tanto a presidente Dilma Rousseff quanto os ministros, pelo escândalo de corrupção na Petrobras.

Para FHC, o fato de as suspeitas envolverem três diretores da estatal indica uma "corrupção sistêmica", cuja responsabilidade é dos "donos do poder".

"O que assistimos é vergonhoso e há responsáveis. Não temos tido a energia de chamar a si os responsáveis. Porque os donos do poder são responsáveis quando a corrupção é sistêmica e o que temos agora é uma corrupção sistêmica", disse ele. "Não é possível que uma empresa como a Petrobras tenha três dos seus diretores acusados de corrupção, todos ligados a partidos [políticos] e quem esteve no comando nunca tenha visto nada disso. Ou é incompetente ou é conivente e tem que ser cobrado."

O ex-presidente afirmou que acredita na honestidade da presidente Dilma. "Mas isso não a exime de responder a esse descalabro", criticou.

Ele fez uma comparação do caso Petrobras com o mensalão. "O mensalão foi obter recursos públicos e privados, sobretudo públicos para financiar deputados, com ou sem campanha para que ganhasse o governo. Pelo que vejo na imprensa, parece o mesmo processo, que é utilizar recursos públicos, no caso da Petrobras, para financiar partidos da base."

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu, porém, que a campanha do PSDB não tem tido sucesso em expor essa indignação.

"Falta indignação na campanha do PSDB contra os desmandos", afirmou.

FHC disse que, numa campanha política, há opiniões diversas, nem sempre convergentes. "Mas em dado momento é preciso mostrar com mais energia, com indignação, o que está acontecendo".

Ele ressaltou que não estava criticando o companheiro de partido, Aécio Neves, que concorre à Presidência. Mas disse que falta dramatização do escândalo. "Não haveria o mensalão se não fosse o Roberto Jefferson, ele dramatizou o mensalão. Em certos momentos é preciso dramatizar para que a população sinta o que está acontecendo. E o que está acontecendo na Petrobras é passível de uma indignação direta, porque exemplifica o que está acontecendo em muitos outros lugares".

Em entrevista a jornalistas, FHC sugeriu que os tucanos imitassem a candidata Marina Silva (PSB). Para rebater boatos de que acabaria com o Bolsa Família, Marina gravou um discurso em que afirma que passou fome na infância. O ex-presidente acenou que o PSDB deve elevar o tom da indignação.

"Houve um assalto aos cofres públicos para fins políticos. Isso é inaceitável", disse ele, aparentemente dando início à estratégia.

Para o ex-presidente, o governo do PT alterou a lógica de funcionamento do Estado e disse que isso afeta a organização tanto do sistema produtivo quanto a vida cotidiana das pessoas.

"Hoje tudo está subordinado ao partido. O partido controla o Estado e o Estado controla a sociedade", afirmou.

FHC participou de evento com 602 empresários e executivos organizado pelo Lide, grupo liderado por João Dória Jr, em São Paulo.


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