Folha de S. Paulo


PT usa militância de aluguel para atos de Dilma e Padilha

Crítico do que chama de "militância de aluguel", o PT repete a prática dos adversários nas ruas de São Paulo para reforçar a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, do candidato da sigla ao governo paulista, Alexandre Padilha, e de seus representantes na disputa por vagas nas Casas legislativas.

Um cabo eleitoral petista chega a receber R$ 1.350 para dois meses de campanha. O benefício é pago para figuração em caminhadas e eventos, segurar bandeiras, cantar o jingle do candidato e distribuir santinhos.

São estudantes, donas de casa, bancários, funcionários públicos aposentados, desempregados e até ex-candidatos do partido que acabam recrutados para engrossar os atos petistas no Estado.

Na última semana, a Folha localizou 20 pessoas que admitiram receber pagamentos do PT paulista para divulgar as candidaturas. Elas foram listadas pela sigla na prestação de contas do partido entregue à Justiça Eleitoral.

A reportagem também obteve relatos de remuneração em atividades de rua. Quando abordados, alguns confirmaram a gratificação, mas disseram ter orientação para não falar com a Folha.

Ao longo da campanha, Padilha negou que a sigla remunerasse apoio. "Nós organizamos campanha para fazer como o PT sabe fazer, sem pagar militância", disse.

A maioria dos militantes disse receber cerca de R$ 700 mensais e ser simpatizante do partido. Uma estudante da capital contou que faz campanha pelo ex-presidente Lula, que não é candidato. Ela afirmou que, se não tivesse o auxílio financeiro, não trabalharia na campanha. Outra disse que já recebe do PT desde a eleição de 2010.

O PT-SP declarou gasto de R$ 801 mil com despesa de pessoal, remunerando mais de 500 pessoas. Como o serviço não é discriminado na prestação, não é possível identificar o número exato de cabos eleitorais pagos.

Secretário de mobilização do PT, Florisvaldo Souza disse que a legenda recorre ao militante de aluguel para manter as campanhas ativas durante os dias de semana, mas minimizou o fato. "Isso não é o nosso forte. A nossa militância não é paga, não é profissionalizada e é essa que faz a diferença", disse.

O PT-SP informou que os gastos com pessoal "são referentes a pagamento de terceiros que colocam e retiram cavaletes, transportam materiais de campanha, bem como locação de veículos e alimentação de equipes de rua". O partido não se manifestou sobre a militância paga.

TRADIÇÃO

Mantendo a tradição de eleições passadas, o PSDB também faz campanha de rua com militância remunerada. As candidaturas do presidenciável Aécio Neves, do governador Geraldo Alckmin e do candidato a senador José Serra contrataram os serviços da empresa Multi Service, responsável por "atividades de militância e mobilização".

Em dois meses, ela recebeu R$ 441 mil da sigla. A atividade envolve cerca de 400 militantes pagos, que panfletam e carregam bandeiras para Aécio. Os profissionais atuam 36 horas semanais e recebem salário mensal de R$ 950.

Segundo o tesoureiro do PSDB-SP, Luís Sobral, a empresa oferece ainda apoio administrativo em serviços de limpeza e segurança.

"O governador não contratou equipe de mobilização de rua para este ano, mas as campanhas de senador e presidente, sim", explicou.

A empresa trabalhou para o PSDB nas duas últimas eleições e teve contrato com Marina Silva (PSB), quando ela concorreu pelo PV em 2010.

Segundo especialistas, não há irregularidade na contratação de militantes, desde que esteja na prestação de contas. Há previsão legal para que empresas contratem serviços prestados por terceiros.


Endereço da página:

Links no texto: